Pára-quedistas

Por Rogério Teixeira Brodbeck Raul, Cláudio, Júnior, Batista, Falcão, Rivelino, Tostão, Leivinha, Casagrande, Dadá e Mário Sérgio. Um time de futebol de sete de …

Por Rogério Teixeira Brodbeck
Raul, Cláudio, Júnior, Batista, Falcão, Rivelino, Tostão, Leivinha, Casagrande, Dadá e Mário Sérgio. Um time de futebol de sete de masters com reservas e tudo? Não, só um time de comentaristas de tevê com uma característica entre si: todo foram jogadores de futebol bem-sucedidos, diga-se, e que enveredaram pelo caminho da latinha e das câmeras.
Esse é o nosso cenário atual na televisão brasileira. Ex-jogadores atuando como se jornalistas fossem, num verdadeiro exercício ilegal da profissão e nas barbas dos dirigentes sindicais a quem cabe fiscalizar a atividade jornalística. Não quero entrar nessa de reserva de mercado, ou se os ex-craques são bons também com a latinha. Nem se trata aqui de queixa de jornalista desempregado. Apenas uma constatação: vale tudo nesse mercado em nome de uma coisa chamada audiência. Até cartola e ex já tiveram e ainda têm vaga na mídia, com direito a coluna diária (vejam-se os casos de Cacalo, Rafael Bandeira dos Santos, etc).
É claro que sei que uma decisão judicial de não sei quem nem de onde declarou solenemente que para ser jornalista não é preciso diploma do curso respectivo. Mas não é contra isso que me insurjo nem contra os pára-quedistas. Não, absolutamente nada pessoal. Apenas que o mercado "tá uma zona" e os coleguinhas não fazem nada. Em boa hora se cogita da criação dos conselhos federal e regionais de jornalistas que funcionarão a exemplo dos existentes nas áreas da medicina, odontologia, engenharia, farmácia, advocacia, etc. Realmente, não é função de sindicato fiscalizar exercício profissional.
Acho que o exercício do jornalismo é para jornalistas, assim como o da medicina é para médicos, e assim por diante. E o mesmo se pode dizer dos comentaristas de arbitragem, todos invariavelmente ex-juízes de futebol (Marsiglia, Wright, Arnaldo, Oscar Godói, Cerdeira e outros). Mesmo que seja uma área específica isso não dá direito a neófitos se arvorarem no direito de comentar tal ou qual. Se assim fosse, as editorias de polícia seriam comandadas por policiais, as de política por políticos, as de economia por economistas, e assim por diante.
Vá algum de nós se arvorar a treinador de futebol e veja o que acontece. Com as exceções de Saldanha, Washington Rodrigues e outros menos votados, não se vê jornalista treinando equipes de futebol e muito menos jogando (!). Logo, ex-jogador não tem que ser comentarista, a menos que esteja habilitado para tal legalmente, como jornalista. E não valem os cursinhos de fim-de-semana da Feplam ou coisa que o valha.
Enquanto os (ex)craques estão na Coréia e no Japão, "trabalhando" (e faturando) uma barbaridade, os jornalistas de verdade (Sérgio Noronha, Roberto Benevides, Paulo Calçade, Wianey Carlet, Paulo Sant?Ana, Edegar Schmidt, só pra citar os mais glamourosos) ficaram aqui É uma pena que isso ocorra, logo em uma categoria acostumada a ser a grande denunciante das irregularidades do país e que dentro de sua própria casa cala-se, consentindo numa invasão de seara onde todo mundo mete a colher.
* Jornalista

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