Reencontro tamanho família

Por Mario de Almeida Em novembro de 2001, a convite da Feira do Livro, estive em Porto Alegre para participar de um Painel: Teatro …

Por Mario de Almeida
Em novembro de 2001, a convite da Feira do Livro, estive em Porto Alegre para participar de um Painel: Teatro de Equipe - Casa de Cultura de Porto Alegre. Na mesa, coordenada por Ivette Brandalise, jornalista, psicóloga, artista plástica e ex-atriz do grupo, sentaram-se, além de mim, Ittala Nandi (outra atriz do Equipe), Milton Mattos, arquiteto, fundador e ator, o escritor, agora imortal Moacyr Scliar e o crítico de cinema, Hiron Goidanich. Na platéia, contemporâneos como Flávio Tavares, Flávio Loureiro Chaves, Henrique Fuhro, Léo e Vera Dexheimer, Vera Veríssimo, Fernando e Naná Castro, Luzia Melo e o arquiteto Irineu Breitman, responsável pela transformação de uma casa muito velha, na General Vitorino, em um pequeno, mas moderníssimo teatro. Um renomado crítico brasileiro de artes sintetizou o trabalho de Irineu: não foi criação, foi uma invenção.
Scliar falou sobre a inteligência que se reunia no teatro e da edição do livro "Nove do Sul", Goidanich sobre as sessões de sábados de filmes cedidos por cinematecas e embaixadas, coordenadas por PF Gastal e Fernando Peixoto, Dexheimer entregou um documento que foi lido, onde ressaltava a presença dos artistas plásticos na vida do Equipe, e eu disse que Fuhro era o nosso "fantasma da ópera", face a sua permanente convivência conosco. Os dois Flávios - Tavares e Loureiro Chaves - reportaram casos com filmes de Cuba pós-revolução, e Milton Mattos, entre histórias sobre excursões do grupo, afirmou que o Equipe, além de Casa de Cultura, foi Casa da Cidadania, culminando com a instalação do Comitê dos Artistas e Intelectuais pró Legalidade, em agosto de 1961. Lá na General Vitorino, teatro transformado em agência de propaganda do Palácio Piratini, a consagrada poeta Lara de Lemos e o hoje premiado ator Paulo César Peréio compuseram, em menos de 30 minutos, o Hino da Legalidade.
Encerrado esse evento de 2001, fui abordado pelo jornalista Rafael Guimaraens, a quem não conhecia e que havia feito a gravação, em áudio, de todo o Painel. Rafael me disse que gostaria de escrever um livro sobre o Equipe e respondi que eu também. Ele me deu o livro de sua autoria "Pôrto Alegre, Agôsto 1961". Chegando ao Rio, após a leitura - um ótimo flagrante de Porto Alegre nos dias de 1961 em que o Rio Grande se levantou contra o arbítrio - começamos, através de e-mails, a trabalhar no livro que Rafael batizou de "Teatro de Equipe - Trem de Volta".
Equipe não era apenas um nome, era nosso jeito mesmo de operar. Terminada a construção do nosso espaço, além dos quatro fundadores, Milton Mattos, Paulo César Peréio, Paulo José e eu, além de atores e atrizes, freqüentavam a casa figurinistas, cenógrafos, artistas plásticos, músicos, poetas, escritores, cinemaníacos, jornalistas, namorados e namoradas. Para ficar só na ala plástica, Luiza Prado, Dilu, Zorávia Betiol, Glênio Bianchetti, Henrique Fuhro, Léo Dexheimer, Joaquim Fonseca, Waldeny Elias, Vasco Prado e Xico eram "gente da casa". Iberê Camargo promoveu o maior rebuliço com uma entrevista acusando o Rio Grande de permanecer num marasmo cultural e acabou se explicando num debate acontecido no Equipe onde Carlos Scliar, em datas diferentes e também morando no Rio, esteve para duas palestras.
Foram tantas as pessoas que conviveram naquele espaço que "Teatro de Equipe - Trem de Volta" traz valiosos testemunhos: Ittala Nandi, Ivette Brandalise, Lara de Lemos, Nilda Maria, jornalistas Flávio Tavares, Léo Schlafman e José Monserrat Filho, figurinista Rui, o multimídia Luiz Carlos Maciel, arquiteto Irineu Breitman, escritora Edy Lima, professora Olga Reverbel, poeta Fernando Castro, artistas plásticos Glênio Bianchetti, Léo Dexheimer, Henrique Fuhro, o engenheiro Orlando Carlos Gómez de Souza, Flávio Loureiro Chaves, fundadores Milton Mattos, Paulo César Peréio e Paulo José e os falecidos Gerd Bornheim e Maria do Horto, além de uma declaração do Xico Stockinger e uma grande matéria de Ruy Carlos Ostermann publicada, em 1961, às vésperas da peça O Despacho, de minha autoria.
O texto e o material iconográfico foram para as mãos talentosas de Clô Barcellos, designer gráfica e empresária da Libretos que edita o livro. A Fumproarte financiou parte da edição e o 10º Porto Alegre em Cena, este ano entregue à coordenação de Ramiro Silveira, reservou duas datas para uma homenagem ao Equipe, 45 anos depois de sua fundação. A diretora do São Pedro, Eva Sopher cedeu o foyer do teatro onde, dia 15, abre-se às 18h uma exposição do Equipe organizada por Milton Mattos e Clô Barcellos. Em torno das 19h, haverá uma "performance" com ninguém menos que Ivette Brandalise, Marlene Ruperti, Nilda Maria, Armando Ferreira Filho, João Manoel, Luiz Carlos Maciel, Milton Mattos, Paulo César Peréio, Paulo José e eu mesmo. Haverá, pois, uma "revoada" do Rio e São Paulo, incluindo o jornalista José Monserrat Filho que iniciou carreira na Caldas Jr. e hoje dirige o Jornal da Ciência, da SBPC, e Ailema e Glênio Bianchetti, que hoje vivem em Brasília. Ittala Nandi, que viria, foi surpreendida por um festival de homenagens no Festival de Cinema de Brasília, nas mesmas datas, coisa que acaba de acontecer com o Peréio, felizmente antes, em Santos. Logo em seguida, haverá a sessão de autógrafos, não só dos co-autores, mas de todos os presentes cujos depoimentos estão no livro.
Noite seguinte, no mesmo horário, haverá um Painel com personalidades de outras áreas, não teatrais, que conviveram naqueles anos conosco e com a participação, já confirmada, de Hiron Goidanich, Ivo Bender, Ruy Carlos Ostermann e o pessoal do Equipe.
Se algum leitor mais distraído não percebeu a tentativa deste velho repórter em transformar um senhor release em artigo, abro o jogo: este é mesmo um convite para te encontrar no Theatro São Pedro onde, em dezembro de 1958, o Teatro de Equipe, em co-produção com o Teatro Universitário, sob a direção de Luiz Carlos Maciel, apresentava seu primeiro espetáculo: Esperando Godot. Estamos, pois, te esperando também.
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, autor de peça "O Despacho". Publicou "Antonio?s, caleidoscópio de um bar" (Editora Record) e "História do Comércio do Brasil - Iluminando a Memória" (Confederação Nacional do Comércio).

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