Regras de comportamento significam cabrestear o Jornalismo

Por José Nunes, para Coletiva.net

 

O mês de julho se inicia de forma trágica para o Jornalismo brasileiro. Tudo em função de uma atitude equivocada tomada pela direção do Grupo Globo, que passa a censurar seus profissionais nas redes sociais. Tomara que esta regra não seja copiada por outras direções e espero sim uma categoria resistente e disposta a manifestar sua contrariedade a essa barbárie que nos remete à época da ditadura. Num momento em que se combate a fake news, quando a responsabilidade do profissional é posta à prova surge essa situação para colocar em cheque a credibilidade do jornalista.

De forma demagógica, o senhor João Roberto Marinho, que trata os profissionais como companheiras e companheiros, explica em carta que as recomendações visam a reforçar o princípio da isenção jornalística. Mas, ao mesmo tempo, ele reconhece que o advento das redes sociais é um fenômeno do século. Porém, no seu entendimento, os profissionais devem agir com parcimônia e que para poder fazer um bom jornalismo: em resumo, tentar ao máximo nos despir de tudo aquilo que possa pôr em dúvida a nossa isenção tem que seguir as regras da empresa na sua consciência. Será?

No meu entendimento, a palavra isenção é uma retórica no Jornalismo porque o profissional age dessa forma em todos os momentos, seja na busca por uma informação até o momento de publicar a sua matéria. Ao contrário disso, são os empresários que não medem esforços para colocar em suas mídias os seus interesses, nesse momento me faz lembrar aquela expressão muito usada, onde colocam a mídia como quarto poder. Agora questiono quem realmente detém esse poder? Com certeza não é o jornalista, mas sim o dono da mídia que age conforme seus interesses.

Querer regrar o pensamento dos profissionais nas redes sociais é o mesmo que querer regrar as amizades e o convívio social de cada um. Não podemos admitir tal atitude, até porque, de regra, quem trabalha nos meios de comunicação sabe como agir enquanto estão exercendo sua função. Ao contrário do senhor Marinho, tenho a certeza de que todo o profissional tem ciência da sua imagem estar diretamente ligada à empresa na qual trabalha, por isso age de forma a tratar suas fontes com responsabilidade. Agora não é determinando regras de convívio social que dará mais ou menos credibilidade ao jornalista, ou à empresa.

Nesse sentido, espero termos forças para combater tais atitudes de empresários, que tentam regrar a consciência de seus profissionais. No meu entendimento, isso está sendo posto para calar o pensamento social e político dos jornalistas que nem mesmo nos seus relacionamentos pessoais poderão externar seus pensamentos. Agora, fica o meu apelo para que os demais empresários do setor façam do Grupo Globo uma exceção e não queiram cabrestear o Jornalismo.

José Nunes é diretor Internacional da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e diretor de Interior da Associação Riograndense de Imprensa (ARI).

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