Remédio contra a monotonia

Por Gilberto Jasper, para Coletiva.net

Vida de assessor de imprensa é fogo. Aliás, muito boa a coluna da amiga e baita jornalista Grazielle Araujo, uma das mais brilhantes estagiárias com quem trabalhei, dando mostras da excelente profissional que se tornou.

 

Nossa raça desconhece horários, finais de semana, feriados e humores. Perdi o número de assessorados com que trabalhei. Em resumo, se dividem em dois tipos: aqueles que só querem falar "na pauta boa" e aqueles que falam de tudo, o tempo todo, desde o tamanho do short da Anitta até a situação das barragens no país. Por isso, nossa vida é um constante exercício de adaptação. Para pagar os boletos é preciso muita paciência e sensibilidade para auscultar o humor do chefe a cada dia.

Alguns assessorados chegam cedo ao local de trabalho, de mal com o mundo. Às vezes é consequência das cobranças conjugais, motivadas pela de ausências prolongadas da família (caso dos políticos). Também consta do cipoal de reclamações as horas gastas ao celular - mesmo em casa - e as escassas horas de lazer.

Trabalhei com três figuras cujo passatempo era enxuriçar a vida do assessor com falta de educação, arrogância e estupidez. As famosas palavrinhas mágicas ensinadas às crianças - por favor, obrigado e bom dia, por exemplo - jamais foram empregadas no dia a dia político. Dos três, dois personagens já foram varridos da cena pública. O terceiro deve sumir em breve.

Tem outro tipo de assessorado que diante do público "é um amor", mas no convívio com a assessoria inferniza a vida de todos. Nenhum amigo acredita quando reclamamos.

- Tu reclamas de barriga cheia. Teu chefe é muito legal!

Já outros simplesmente nos dispensam da função, mas nos mantêm no emprego. Querem ver? Trabalhei com uma autoridade de grande relevância que, logo no primeiro dia de trabalho, disparou:

- Vamos ser claros: a tua função, aqui comigo, é me manter longe da imprensa. Aliás, bem longe. Só isso!

Depois de algum tempo ele entendeu que existe gente boa em todas as profissões. Inclusive no jornalismo e até concedeu algumas entrevistas. Mas - sejamos honestos! - tem muito assessorado que ajuda, tem paciência e compreende a nossa função.

Uma dica para quem pretende enveredar pelo caminho da assessoria/consultoria/curadoria é lembrar - sempre! - que a notícia veiculada no jornal de hoje, enaltecendo o assessorado, já é produto velho, página virada, passado. Neste caso, respire e foque no dia seguinte. É certo que um puxa-saco vai assoprar no ouvido do seu chefe que a manchete poderia ter sido maior, que a posição na página não é a melhor ou que a foto usada é antiga.

Para quem não curte mesmice, assessoria de comunicação/imprensa é um prato cheio. Um dia, falando à reportagem do jornal A Platéia, de Santana do Livramento, da família Badra, proferi uma frase que virou manchete:

- Nossa rotina é não ter rotina!

Se o (a) amigo (a) detesta horários rígidos, atividades previstas com antecedência, agenda estruturada e organização, sugiro investir nesta função. Apesar da bagunça do dia a dia você vai conhecer muita gente legal, lugares incríveis e aprender como o ser humano é um bicho complicado.

Gilberto Jasper é jornalista.

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