Um dia ainda vou pra longe da corrupção

Por Claiton Selistre

Sim, de vez em quando faço uma ducha rápida no carro, em Coqueiros, e enquanto espero os 15 minutos regulamentares sempre olho para o edifício do lado esquerdo. Lembro do Juliano Lissoni, que morava ali e a quem dava uma carona de vez em quando vindo do prédio redondo de Itaguaçu. Certa vez, nesse trajeto, me disse que estava pensando em trocar a gestão que fazia na área de eventos por uma proposta de uma empresa internacional com sede em São Paulo. Óbvio que ele já estava se planejando em um futuro internacional, óbvio também que lhe disse qualquer coisa como "não pensa duas vezes: vai."

Ontem, um grupo de amigos reuniu Juliano poucos anos depois. Está baseado em Toronto, no Canadá, executivo do MCI Group, em breve colocando sob sua gestão os Estados Unidos, um dos 18 destinos de suas viagens anualmente.

O que ele nos contou sobre viver no Canadá é de admirar. É verdade que o governo lhe tira 50% dos rendimentos, mas tem tudo de graça: do transporte ao estudo. O sistema médico é distrital. O atendimento generalista é do outro lado da rua onde mora, o dentista é no mesmo. Com qualquer receituário ele pega os medicamentos de graça na farmácia. Não existe pirâmide salarial. O esquema é achatado, ou seja, não há grandes diferenças nos rendimentos.

Corrupção? Tem sim, mas até isso é de primeiro mundo lá, não é essa gandaia brasileira.

Na comunicação, Juliano já virou canadense mesmo. Torce para um time de futebol, basquete, hockey e não sei mais o quê. Para assistir jogos em vídeo ele assina pacotes de seus clubes, não de uma emissora.

Não é a toa que 30 mil brasileiros já vivem lá, e mais de 170 línguas são faladas nas ruas de Toronto ou abaixo delas, pois devido ao frio do inverno parte do centro da cidade está no subsolo. Chama-se PATH e tem mais de 30 km de extensão.

Então foi sobre isso que conversamos. É claro, nosso amigo levou uma gozadinha do Pedro, que chegou mais tarde, relacionando o andar de baixo com a série B do time dele lá no Sul, o Inter.

Enfim, foi um belo encontro. Talvez quem sabe eu ainda seja em breve mais uma voz na grande cidade canadense. Pelo menos ficaria livre desse noticiário terrível que nos assombra há anos e mostra que não há perspectivas a curto prazo de ver mais gente honrada em cargo público e na política.

Enquanto isso, vou usando a ducha rápida em Coqueiros e olhando para o ex-edifício do Juliano ao lado, lembrando como ele está feliz enchendo seu passaporte de carimbos em todos os cantos do mundo.

Claiton Selistre é jornalista.

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