A vida real em sonhos

Feira do Livro, Bienal, Casa Cor. Não dá pra escapar. Na 49a Feira do Livro de Porto Alegre, muito acessível e organizada está a …

05/11/2003 00:00
Feira do Livro, Bienal, Casa Cor. Não dá pra escapar. Na 49a Feira do Livro de Porto Alegre, muito acessível e organizada está a programação de palestras, com horários fixos (fáceis de identificar e guardar) em diversos locais próximos à Praça da Alfândega. Em uma delas, ouvi do psicanalista Mario Corso uma pincelada das que ficam na composição das idéias circulantes. Ele faz um paralelo entre as vizinhas de armazém no cais do porto: a Casa Cor (mostra anual do que há de melhor em arquitetura e decoração) e os trabalhos mais intrigantes da IV Bienal do Mercosul. No primeiro caso, as pessoas deparam-se com o que há de melhor, em um conceito de sucesso material, para a vida real, prática e cotidiana do que se pode pagar, é claro. Um parâmetro de vida cada vez mais difícil hoje de ser alcançado. Nos armazéns seguintes, supondo-se que exista um roteiro, estão os trabalhos irreais. O jovem psicanalista (pois estava ao lado de três personalidades de maior idade) propôs que percebêssemos tais obras como os nossos conhecidos sonhos e pesadelos. Apaixonou-se, disse ele, por um fusca branco coberto de cacos de vidro verde, que, se por um lado agride, por outro atrai. E lembrou Corso que, além de sua paixão italiana pelos carros, a obra o remeteu àquela sensação extremamente desagradável e estressante que é estar exposto ao trânsito. Sendo assim, na Casa Cor os sonhos se projetam em uma proposta de realidade exterior. Na Bienal, estão os sonhos irrefreáveis, imprevisíveis e angustiados dos artistas contemporâneos que podemos identificar como nossos próprios sonhos e pesadelos. Nesta situação, o psicanalista procura um caminho inverso ao do artista. Segundo Mario, "um realiza, complica, expõe o irrealizável, e o outro tenta encontrar o caminho de volta". Bravo, doutor. libretos@terra.com.br.