A artista e a quermesse

      Era uma vez uma estudante de um colégio de artistas que tinha de fazer um trabalho para a quermesse junina. Era uma manhã de …

      Era uma vez uma estudante de um colégio de artistas que tinha de fazer um trabalho para a quermesse junina. Era uma manhã de domingo e ela viveu um pequeno dilema. Uma questão. Um processo que foi liberto apesar das amarras.

      A orientação era terminar uma obra até às 14h. As tintas estavam ali. Dentro dos tubos. E deveriam sair. Para uma tela branca. E as pessoas estavam esperando. O relógio estava correndo. Aberto o colégio, muitos outros alunos-artistas já estavam iniciando seus trabalhos.

      Ela procurou um símbolo, sinais de passado, de futuro. Algumas formas interessantes. Partes do colégio estavam em construção. Na portaria, um computador piscava. Colunas de mármore.

      O Diretor entra e acende a luz. Logo apaga constrangido, sem saber se a luz atrapalha ou ajuda. É o segredo da arte. Oferece uma cadeira. Vê o desenho e diz: mas a senhorita é mesmo uma artista!

      Na rua, um mendigo dorme na frente da porta. A pequena artista cruza com uma colega que parecia muito decidida.

      Início da obra: uma base de branco. O símbolo do colégio bem no meio. A cor escolhida: um marrom antigo. Desenhou, rasgou papel, mudou de lugar, colocou roxo. Estava nervosa. "Isso não vai dar certo". Arranhou com o cabo do pincel. Desistiu do símbolo. Arriscou verde, sempre com o cabo. Lembrou de seu professor de pintura que dizia: "tens uma caligrafia muito expressiva, com ritmo frenético". Estava gostando do caminho, porém deprimida com o resultado. Tentou usar outro verde com a tal caligrafia. Guardou tudo. "Não estou me divertindo. Vou para o pop. Vou arriscar". Fechou tudo com o verde. Fez mais símbolos, mais displicentes. Pensou: "esse colégio é uma m? Nada pode ser retratado. Vou fazer um bolo bem gostoso daqueles que dá vontade de passar o dedo". Usou tintas fluorescentes, amarelo cádmio, rosa-choque, amarelo-limão. E foi se divertindo.

      Da pessoa mais incompetente, que nada faz direito, foi ao delírio e gostou. Não havia controle na escolha das tintas. Só feliz escolhia com o mesmo ritmo da caligrafia.

      E se viu chamando os outros para olharem.

      O dia estava nublado, mas o sol apareceu. Parecia que ela era mesmo uma artista. "Quem sabe dá certo?", pensou por último.
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