Adaptação e Ciclos

Por Flavio Paiva

Vários autores vêm destacando dois fatores em especial: a necessidade de adaptação às transformações tecnológico-corporativas e o encurtamento dos ciclos, a velocidade cada vez mais rápida com que eles acontecem.

Porque uma característica "exigida" dos profissionais que queiram ter êxito nos próximos anos e décadas no trabalho (o futuro do trabalho) é a capacidade de reinvenção e adaptação, tanto no que sabem quanto no que fazem. De forma acelerada, se o indivíduo historicamente atuava em tal função ou área, como ela pode estar fadada a deixar de existir e ser substituída por bots, inteligência artificial, machine learning, ele precisa encontrar um novo espaço, para que subsista e até faça sucesso em seu desempenho profissional. Para tanto, é necessário e indispensável que este indivíduo se adapte, se reinvente, evolua, descubra talentos escondidos. Até aí não seria o problema. O problema está no fato de que todas estas coisas devem ocorrer simultaneamente e em uma velocidade assombrosa.

Entusiastas das novas tecnologias traçam este quadro como algo perfeitamente atingível, factível, além de desejado. Mas será mesmo? Naturalmente, o ser humano foi evoluindo e aumentando a velocidade (portanto, reduzindo a velocidade dos ciclos) desta evolução. Historicamente isto está comprovado. Mas qual o limite da mente do ser humano para em curtíssimos espaços de tempo se reinventar, passar de advogado a piloto de drone, logo em seguida tendo um novo desafio e assim sucessivamente? A cabeça dos indivíduos não é tão rápida quanto está sendo o avanço da tecnologia e, por consequência, sua reorganização (ou desorganização) mental.

Historicamente, trabalhadores desempenharam tarefas e trabalhos conhecidos e previsíveis. Posteriormente, a mudança foi se implantando. Mas numa velocidade em que os trabalhadores podiam processar estas transformações.

Mas e agora? A situação está quase acordar de uma maneira, desempenhando uma atividade e ir dormir desempenhando outra. Sou entusiasta da tecnologia como transformadora da realidade e das atividades, da sociedade. Porém, temo que estejamos nos aproximando de um limite.

Mal comparando, os seres vivos levaram milhões de anos até atingirem estágios evolutivos significativos, transformando-as e adaptando-se. O que está em curso agora é uma necessidade urgente desta adaptação. Pergunto de novo: qual o limite para tanto, para esta velocidade de tal forma que os indivíduos não comecem a perder até mesmo sua identidade? Temos que voltar a Charles Darwin, não para adotar sua teoria e velocidade no mesmo tempo em que se deu. Mas talvez para observar quais foram seus conceitos, o que moveu as mudanças, o que funcionou e o que não funcionou. Não voltar no tempo e querer implantar a mesma teoria, mas revisita-la e atualizá-la para os nossos aceleradíssimos tempos.

Voltar ao passado, de certa forma, não é negar o futuro. Não é como o avestruz escondendo a cabeça debaixo da terra. É mesmo para encarar e fazer um pensamento consistente, objetivo e que nos leve a uma evolução sólida é saudável para os seres humanos.

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