Bobagens bilaterais

Por um lado, o futebol é o ópio do povo.

Por outro, o jogo medíocre é o crack das multidões.

Por um lado, os xifópagos privam de tudo entre si.

Por outro, não têm privacidade alguma.

Por um lado, o geômetra é cartesiano.

Por outro, tem suas facetas.

Por um lado, o prisma é um objeto discreto e incolor.

Por outro, é o próprio orgulho gay.

Por um lado, o filósofo parte de qualquer premissa.

Por outro, não chega a lugar algum.

Por um lado, o pêndulo faz tic.

Por outro, faz tac.

Por um lado, a esquina é sólida, rígida, imóvel.

Por outro, nós a dobramos.

Por um lado, o indeciso está em condições de hesitar.

Por outro, é capaz de vacilar.

Por um lado, os antípodas estão no outro hemisfério.

Por outro, somos sua recíproca neste aqui.

Por um lado, a ampulheta derrama prazos.

Por outro, escorre pressa.

Por um lado, Mauritius Cornelius Escher desorienta.

Por outro, guia nossa gestalt.

Por um lado, o Minotauro não sofria de claustrofobia.

Por outro, Teseu não tinha labirintite.

Por um lado, o palíndromo é leitura ocidental.

Por outro, também se lê à maneira oriental.

Por um lado, a pilha é positiva.

Por outro, é alcalina.

Por um lado, o estrábico concorda com o seu interlocutor.

Por outro, diverge.

Por um lado, o parabrisa não para.

Por outro, nem brisa.

Por um lado, um ambidestro pode ser inábil com as pessoas.

Por outro, um maneta pode ter destreza social.

Por um lado, o marido é o último a saber.

Por outro, é o primeiro a ser enganado.

Por um lado, o ioiô é inércia pura.

Por outro, é puro ócio.

Por um lado, o morcego troca o dia pela noite.

Por outro, inverte o sono.

Por um lado, o bumerangue é controlável.

Por outro, é indescartável.

Etc.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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