Culpados

Por Fraga

Enquanto as cadeias não lotam com os denunciados por corrupção, talvez seja oportuno lançar luz sobre alguns tipos de colaboradores no mundo do crime. Hoje vamos listar três dos mais célebres e, até aqui, impunes.

Dicionários

Assim como o Código Penal, que é um livrão recheado de forma sugestiva de todo tipo de crime (quem não tiver ideia de delitos a cometer basta abrir em qualquer página e lá estará a descrição esclarecedora), também os dicionários podem ser arrolados como incentivadores de ações criminosas. Sobretudo para a área política, dicionários trazem fartura de modelos de abusos do erário, saques ao tesouro público e também um rol imenso de atos corruptos. Alguns verbetes descrevem descarada e didaticamente as palavras-chaves do enriquecimento ilícito: Fraude, Falcatrua, Maracutaia, Trambique, Mamata, Negociata, Roubalheiras, Desvio, etc. Não por acaso se tornaram a preferência nacional, pois todas elas admitem formas plurais, o que multiplica o desfalque. Dicionários são ameaça desde a escola: põem verbetes ao alcance dos jovens, seduzidos pelo ganho fácil, orientados por incontáveis maus exemplos de vereadores, deputados, senadores, governadores etc. Não é à toa que nos plenários os parlamentares sempre pedem a palavra. E as palavras, sabemos quais são. Cadeia pros dicionários! São os maiores responsáveis por tudo que a Lava-Jato aponta, mas que tantas vezes também nos desaponta.

Panos

Há décadas a indústria têxtil faz vista grossa à vergonhosa cumplicidade de seus produtos. Do mais sofisticado shantung até a mais grosseira juta, da delicada cambraia à resistente sarja, todo tipo de tecido se presta a negócios por baixo do pano. Quanto mais larga e longa a medida, mais e maiores crimes pode ocultar. O uso de estampas distrai a opinião pública, que nem suspeita do que se passa sob metros e metros. E há tecidos para negociatas e falcatruas em todas as estações: musseline pro Verão, algodão pro Outono, lã pro Inverno e seda pra Primavera, sem falar nos sintéticos que se adaptam a qualquer época. Fradukentos amadores ou profissionais têm nos panos um amplo aliado para a prática criminosa em todos os setores da sociedade. Os têxteis devem ser julgados por suas tramas e urdumes: eles encobrem tudo e todos. E muito cuidado: eles também vendam a Justiça!

Surdina

Este é um instrumento que, bem disfarçado, contribui para facilitar atos criminosos. É que na surdina as coisas ou são mal percebidas ou nem chegam a ser notadas. Os meliantes que se valem da surdina costuma recorrer ainda à calada da noite, às vezes combinando ambos os recursos.

Acho que agora os agentes judiciários poderão enquadrar os verdadeiros culpados. Quero ver o Gilmar Mendes soltar esses tipos de perigosos comparsas.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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