É você, Lombardi?

      Foi no mínimo chocante o tamanho do espaço que a mídia destinou à entrevista que Sílvio Santos concedeu à Contigo, dizendo que ia vender …

      Foi no mínimo chocante o tamanho do espaço que a mídia destinou à entrevista que Sílvio Santos concedeu à Contigo, dizendo que ia vender o SBT e que tinha 6 anos de vida. Faltou neurônio para avaliar o conteúdo da entrevista. Primeiro porque ninguém pode afirmar que tem 6 anos de vida. Depois, porque o veículo para o qual ele concedeu entrevista não é uma publicação com tradição de reportagens jornalísticas sérias e aprofundadas. A Contigo é mais dada a fofocas, informações do tipo "Você sabia que a Danielle Winits está saindo com o Rodrigo Santoro?".
      A que se deve tamanha repercussão, além da falta de inteligência? Às novas tecnologias. Explico: antigamente, os jornalistas eram forçados a sair das redações e cobrir os fatos direto do local onde estavam acontecendo. Hoje, muitas coberturas, entrevistas e checagens são feitas de dentro da redação, via telefone(sobre este assunto, vale a pena ler a entrevista de Fernando Albrecht na revista Press, de umas duas edições atrás). Além disto, a Internet criou uma verdadeira indústria da cópia. Tudo é passível de cópia e (quase) todo o conteúdo do mundo está ao alcance de um clique. Não digo que os jornalistas copiem descaradamente uma notícia ou informação. O que ocorre é que há grandes agências de notícias que se tornaram "fornecedoras oficiais" de notícias. Saiu em um veículo, saiu em todos. Isto ocorre porque o ser humano é um preguiçoso em potencial(me incluo). As novas tecnologias nos tornaram ainda mais preguiçosos. É bem mais fácil ler na tela do computador do que ter que ir ao local. Certamente não há falta de notícia. Com mais de 6 bilhões de habitantes, alguma coisa haverá de ser notícia e não só o Sílvio e suas colegas de auditório. Mas como encontrar esta notícia, somente acessando a Internet e usando o telefone?
      No ambiente de negócios, ocorre o mesmo. Os executivos(supervisores, gerentes, diretores, etc) tendem a se acomodar em uma zona de conforto e deixar de lado a linha de frente, onde as coisas realmente acontecem. Estes executivos acabam por conhecer a realidade a partir dos relatos e dos olhos de seus subordinados. Como se aprende em comunicação, todo relato tem a interferência e o ruído de seu narrador, seja ela intencional ou não.
      Por outro lado, a indústria da cópia está muito presente no ambiente de negócios. A cópia se refere às idéias de marketing, administrativas, de gestão. As teorias são adotadas como se fossem as únicas possíveis. Me parece que, para se sentirem mais seguros, os executivos se utilizam de teorias como marcas de roupas ou canetas ou automóveis, da mesma forma que os jornalistas se reportam às agências de notícias("fornecedoras oficiais"). Se você ficar falando sobre tal teoria(reengenharia, por exemplo), você é um cara bacana, atualizado, por dentro, inteligente. Se você não conhece?"Como? Você não conhece a reengenharia????". Não estou dizendo que os executivos não tenham a obrigação de estarem atualizados, óbvio que sim. Há teorias de grande valor, como as idéias de Peter Drucker, por exemplo.O que digo é que há uma verdadeira obsessão por novidades, mesmo que elas não representem novidades reais ou, o que é pior, sejam coisas antigas requentadas. O foco, a preocupação está em saber se tal pessoa já conhece(na verdade, se já ouviu falar) tal teoria, não importando se ela é relevante ou não. É o efeito Silvio Santos do mundo corporativo. Todos se apressam em dizer que sim, conhecem tal teoria(ou noticiar que Sílvio Santos diz ter mais 6 anos de vida), não se preocupando em refletir e verificar o que há de consistente nela. Faltou inteligência no caso Sílvio Santos e está faltando para muitos executivos.
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