Grandes pesquisadores

      Se, como diz a frase, copiar a idéia de um único autor é plágio, mas copiar de vários é pesquisa, jornalistas são, por definição, …

      Se, como diz a frase, copiar a idéia de um único autor é plágio, mas copiar de vários é pesquisa, jornalistas são, por definição, os maiores pesquisadores do mundo. Copia-se de tudo. Não se trata de reunir fatos e declarações e colocá-los sob a forma de reportagem, citando todas as fontes, mas de copiar mesmo, sem intenção de dizer de onde tirou. As informações viajam hoje à velocidade de satélites e fibras óticas, chegam ao mesmo tempo a qualquer lugar do mundo com acesso à TV ou à internet, e isso ampliou a sensação de que a notícia não tem dono e, portanto, pode ser adotada por incontáveis pais. Fatos como a explosão do ônibus espacial, por exemplo, dispensam paternidades, uma vez que todos comem ao mesmo tempo pela mão da fonte primária, no caso, a Nasa. Mas outras, como a causa real do desastre, são apuradas, o que implica competência, tempo e dinheiro. Apropriar-se delas sem citar a origem é roubo. Light talvez, mas roubo.
      O imbróglio envolvendo Pedro Dória ( nominimo.com.br) e Márcia Peltier (JB) reacende a discussão sobre imprensa e propriedade intelectual. Parece não haver dúvidas de que a colu-nista cometeu plágio, mas não é tão claro se Dória fez o mesmo em cima de um artigo do americano William Clark, conforme levantou Ivson Alves, do comunique-se.com.br. O artigo de Clark está na rede à disposição de quem tiver "a paciência de destrinchar 18 páginas em inglês", informa Alves.O assunto é controverso. O próprio Dória já havia citado Clark, depois de Márcia defender-se insinuando que o texto dele também era uma cópia.
      Chupa-se, para usar o jargão, não apenas detalhes sobre determinado fato, mas também formas de abordagem, expressões inteligentes, encaminhamentos adequados, ou seja, idéias. Proteger a propriedade intelectual é complicado, mas a discussão é necessária. A internet esti-mula a apropriação indébita. Há também a modalidade "publique-se qualquer texto assinado sem pedir licença ao autor", mas aí já é tema para outro artigo.
      Comecei este texto com a expressão "se, como diz a frase", mas o correto seria iniciá-lo com "se, como diz a frase de Fulano de Tal". Não recordo o autor, não encontrei o nome, sequer recordo se é conhecido. Pior, pode ser de um clássico ou uma celebridade e eu aqui pagando mico. Muitas vezes, por preguiça, mas alegadamente pela "pressa do fechamento", adotamos transcrições apócrifas. Como também não hesitamos em culpar terceiros por nossos erros. Perde-se a fonte, mas não a pose. Jornalistas consideram-se guardiões da ética e da moralidade. Portanto, têm de dar o exemplo.
* Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha e Dona Deusa e seus arredores escandalosos e da ficção juvenil Elyakan e a Desordem dos Sete Mundos .
( [email protected])

Autor
 Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha, Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos e da ficção juvenil Eliakan e a Desordem dos Sete Mundos.

Comentários