Luzes no Norte

Por José Antônio Moraes de Oliveira

Durante milênios, as Luzes do Norte foram motivo de especulação, superstições e assombro. Pinturas rupestres de 30 mil anos, no sul da França, mostram o fenômeno como prenúncio do fim do mundo. Em 1616, Galileo Galilei batiza as luzes como Aurora Borealis, unindo  o nome da deusa romana do amanhecer, Aurora, com o nome grego do vento do Norte, Boreas.

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"- É muito difícil relatar o impacto emocional que este fenômeno provoca nas pessoas", começa Trond Trondsen, um professor de astronomia, que estuda a Aurora Borealis há 10 anos: "Eu a descreveria como luzes dançantes no céu. Elas têm uma espécie de ritmo, uma coloração distinta a cada aparição, nunca vi duas iguais. É como uma música que vem do alto em forma de luzes." 

Já Arne Bergh, gerente do Ion Adventure Hotel, em Nesjavellir, que fica a 45 quilometros de Reykjavik, tem outra definição: "É a respiração dos deuses nórdicos". Ela diz que a cada inverno, a Islândia vem recebendo cada vez mais turistas da Asia, esperando serem premiados com o espetáculo das luzes:

"- Eles pedem para serem chamados a qualquer hora à noite, mesmo com temperaturas abaixo de zero".

Ela adverte que não há garantias de quando as luzes vão surgir no céu. No entanto, sabe-se que, nos meses de Agosto e Abril, o fenômeno acontece quase todas as noites. E mais:

" - O período mais propício é entre 10 e meia-noite

e entre 2 e 4 da madrugada.

E quanto mais claro o céu e mais baixa a temperatura,

maior será o brilho e mais intensas as cores".

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O interesse crescente pelas misteriosas luzes incentivou a montagem de modernas infraestruturas de receptivo nos países do Círculo Ártico, desde o Alaska à Rússia, como Finlândia, Suécia, Noruega, Groenlândia e Islândia. Relatórios mostram que os visitantes em busca das Luzes do Norte aumentatam quatro vezes nos últimos seis anos. Em 2017, na Islândia, estes turistas do frio gastaram mais de US$ 40 milhões. Com a ajuda dos astrônomos, que anunciaram que as Luzes do Norte serão mais brilhantes nos próximos anos no Círculo Ártico, devido à chegada de novo ciclo solar.

Mas, mesmo nas proximidades de Reykjavik, os visitantes apreciam a Aurora Borealis, embora especialistas sugerem que, quanto mais ao Norte, mais vivas serão as luzes. Mas não é preciso rodar muito para encontrar lugares propícios ao espetáculo. Como o vilarejo de Vík í Mýrdal, a poucas horas de Reykjavik e que com menos do que 500 habitantes. Era conhecido apenas pelas praias de areias negras, mas agora aparece nos guias turísticos como um dos melhores pontos para se observar as luzes. Um casal de fotógrafos noruegueses, Drangar e Linnea Reynnir chegou em 2008, para fotografar a Aurora Boreal para uma revista de Oslo. Encantados com o cenário, abriram uma pousada em uma fazenda próxima ao litoral. A Pensão Reynnir oferece uma visão elevada das praias negras e dos penhascos vulcânicos. Drangar confirma:

" - Em dez anos, Vík í Mýrdal passou de um lugar desconhecido a um dos mais procurados para fotografar a Aurora Boreal. Sempre lotamos no inverno. Há pouca nebulosildade e os rochedos negros compõem a moldura perfeita para as luzes. E, às vezes, a luz no céu é tão brilhante a ponto de formar  sombras no chão".

Enquanto isso, estudiosos se esforçam em explicar o fenômeno. Para o professor Trondsen, quando o sol produz instabilidades magnéticas, surgem erupções e ventos em sua superfície:

"- Estamos falando de bilhões de elétrons, que chegam à Terra, onde são atraidos para os pólos Norte e Sul. E quando os elétrons atingem a atmosfera, surge a Aurora Boreal".

E completa:

"- É como se o sol cuspisse no espaço".

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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