Mãe é tudo igual. Só muda o endereço

Por Márcia Martins

Quem nunca ouviu algumas das frases seguintes ditas com a sabedoria indiscutível de suas respectivas mães? Não sei o que seria dessa casa sem mim; se eu voltar aqui e isso estiver do mesmo jeito você vai se arrepender; você não fez mais que sua obrigação; espera só quando eu chegar em casa; depois não vai dizer que a mãe não te avisou ou a famosa: vou sumir dessa casa, aí eu quero ver como vocês vão se virar sem mim. Pois, é claro que em diferentes situações, todos já escutaram uma ou mais de uma das frases que as mães adoram falar para seus filhotes, sejam eles crianças de pegar no colo para fazer nanar ou adultos já com diplomas, donos de seu próprio nariz, alguns até já com família formada.

As mães não combinaram entre si de decorar essas sentenças. A experiência materna, adquirida naturalmente desde o instante em que a mulher sente a sua gravidez, e o tal do amor incondicional pelos seus filhos, fazem com que as mamães tenham tais frases na ponta da língua. Elas não sentam nos bancos das praças quando levam seus pequenos para brincar e pegar sol para combinar de falarem as mesmas coisas. Elas não acertam, enquanto aguardam a saída dos filhos dos colégios, de usarem sempre a mesma cartilha na educação deles. Elas não decoram, nos intervalos de suas duplas ou triplas jornadas, tais mantras para serem ditos da mesma maneira nas ocasiões adequadas.

Todas as mamães proferem as mesmas frases. Todas as mamães desenvolvem o mesmo instinto maternal. Todas as mamães carregam as mesmas preocupações com seus bebês, suas crianças, seus adolescentes e adultos. Todas as mamães perdem as suas noites de sono sem nenhum problema para cuidar do filho doente e controlar a febre. Todas as mamães não se importam de deixar de comer a última fatia daquela torta que ela adora para que o filho comilão possa repetir a sua vez. Sabem porquê? Motivo simples. Mãe é tudo igual. Só muda o endereço.

Agora, quando a filha é um ser especial, repleto de qualidades visíveis e necessárias, a mãe delira, enlouquece, idolatra, elogia e não consegue jamais deixar de ser coruja. Em todos os momentos, ela esbanja a sua corujice. Exatamente assim que acontece com a mãe que escreve essa coluna em relação a sua filha única, a alegre e esfuziante Gabriela, que completa em dezembro os seus 24 anos. Tudo na Gabriela é brilho, é iluminação, é persistência, é cultura, é inteligência, é felicidade, é vida. Tudo na Gabriela é desejo de justiça, de igualdade, de direitos e deveres para todos, de equilíbrio, de amor e paz. Tudo na Gabriela pulsa, lateja, incendeia. Tudo na Gabriela é realidade, é fantasia, é o avesso do avesso do avesso do avesso.

Então, vocês podem imaginar a alegria desconcertante da mãe Marcinha ao ver a filha no dia da prova de toga para fazer as fotos do convite de sua formatura em Relações Públicas, na UFRGS, que ocorrerá em 9 de fevereiro. Foi um dia antes das eleições do segundo turno e eu, envolvida demais com o resultado do pleito, fui postergando de comentar o tamanho da emoção que senti em ver o meu nenê, a minha criança, a minha adolescente, hoje uma mulher adulta e segura de si, experimentando a toga que irá coroar anos e anos de estudos. Sou a mãe, com certeza, e ninguém tira este título de mim, mais coruja deste planeta. Mãe realizada. Mãe contemplada. Mãe satisfeita. Mãe com a certeza de ter cumprido a sua parte neste planeta. Mãe feliz.

Espero não derramar lágrimas e lágrimas de emoção no dia da formatura. Porque eu sou sim também a mãe mais chorona da face da terra. Ver a minha filha desfilar no palco do Salão de Atos levantando o diploma, que pode não ser o único, uma vez que ela fará vestibular novamente (já passou em Políticas Públicas no vestibular da UFRGS no início deste ano) não tem preço. Ver a minha filha encerrar uma etapa importante da sua vida não tem definição. Ver a minha filha assim, plena, inteira, confiante e segura de que ainda tem muito a realizar na sua vida, não tem explicação. É muito amor. Amor indescritível. Amor maior não existe.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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