Mais viadage

      O assunto nem mereceria suíte não fosse a aparente seriedade com que tem sido tratado, o que, com o perdão da piada, parece piada, …

      O assunto nem mereceria suíte não fosse a aparente seriedade com que tem sido tratado, o que, com o perdão da piada, parece piada, e o fato de eu ter recebido muito mais e-mails do que de costume (nenhum discordando do que falei, aliás), o que prova que gaúcho adora viadage.
      O cartaz aí abaixo é cheio de duplos sentidos, e duplo sentido, sabemos, lembra viadage. "Quem tem orgulho de ser Gaúcho sai desse planeta" é um trocadilho escorregadio (outra viadage, essa história de escorregar). Dá a impressão de que gaúcho orgulhoso tem mais é que morar em Vênus, não, em Vênus não, mas em Marte, porque Vênus é planeta de mulherzinha. "Está mexendo com um povo que sempre lutou pela sua honra" tem um inegável ranço machista, aquele papo do sujeito que matava a mulher e alegava legítima defesa da honra, ainda bem que esta não cola mais. E todo machista, como se sabe, está a um passo da viadage. Já a frase "?pegando os caras do Casseta e Planeta pelo?" me assustou, mas, xapralá.
      O cartaz não é assinado por qualquer entidade ou órgão (epa), o que não é uma atitude muito, digamos, macha. Caso os insignatários estejam indefinidos (epa), sugiro que se assumam (epa) como Movimento das Bombachas Iradas.
      Para quem não leu a coluna anterior, informo que concordo com quem reclama do excesso de piadas de gaúcho no Casseta e Planeta. De fato, os cassetas têm passado dos limites. Mas também não é caso de pegar nas armas (o tema é cheio de trocadilhos, fazer o quê?) por causa disso. Trata-se de ver a vida por todos os lados, como prega o slogan de conceituado órgão (!) da imprensa gaúcha. Se bem que este negócio de "por todos os lados" é coisa de veado.
      Agora, sério: o que mais me incomoda nesta história nem são as piadas, mas a homofobia gaúcha. Por trás (por favor, sem trocadilhos, desta vez) de toda a história há uma verdadeira fixação dos humoristas (escrevi homoristas, mas o corretor me alertou) e um legítimo pavor de alguns gaúchos em serem identificados com homossexuais. Das duas, uma: ou o preconceito é imenso ou há muita insegurança na parada. Desculpem, fui redundante. O preconceito, ainda mais o sexual, é sempre provocado pela insegurança.
* Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha e Dona Deusa e seus arredores escandalosos e da ficção juvenil Elyakan e a Desordem dos Sete Mundos .
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Autor
 Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha, Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos e da ficção juvenil Eliakan e a Desordem dos Sete Mundos.

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