Pequenas e importantes palavras capazes de mudar o mundo

Por Márcia Martins

A vida definitivamente não é um mar de rosas. Nem todas as estórias reais terminam como nos contos de fadas com as pessoas vivendo felizes para sempre num lindo castelo encantado. Nem todo sapo é um princípe. Nem toda donzela é uma princesa. Nem toda rainha é o retrato da bondade. Nem todo rei sabe exercer na plenitude e com bons propósitos a sua majestade. No dia a dia, nem tudo assemelha-se à perfeição. Na vida, algumas coisas fogem do controle. Escapam do nosso planejamento. Na maioria das discussões, nas esferas particulares ou profissionais, os termos que expelimos de nossas bocas são cruéis e derradeiros para selar, irremediavelmente, qualquer tentativa de reaproximação. Às vezes, em muitas e frequentes ocasiões  machucamos, mesmo sem querer, perceber ou dimensionar, quem mais amamos e o estrago já foi feito. É complicado remediar.

Mas estava eu pensando que devem existir algumas pequenas palavras que, uma vez pronunciadas, mudam estas situações quase irreversíveis. Sei lá. Deve haver uma única palavra capaz de apagar a bagunça que uma discussão de relação, a famosa DR, provoca no coração dos parceiros envolvidos. Deve haver uma simples palavra habilidosa o suficiente para reverter as ofensas proferidas em brigas de familiares. Deve haver uma singela palavra qualificada para fazer desaparecer qualquer mágoa surgida em um bobo e inútil bate-boca entre mãe e filha. Deve haver uma sincera palavra para dissipar qualquer mal entendido em uma discussão ridícula no trabalho. Devem sim existir palavras mágicas, milagrosas, maravilhosas, extraordinárias, inexplicáveis capazes de apagar, fazer esquecer, destruir completamente o que foi dito, quando não deveria ter sido dito.

Palavras tão elementares e espontâneas que podem sim resolver questões extremamente complicadas. Nada tão sobrenatural. Nada tão espantoso. Nada tão estupendo. Nada tão divino. Termos simples de se pronunciar. Listo apenas cinco destas palavras ou termos qualificados que me surgem assim de repente na minha mente e que podem sim mudar tanta coisa. Eu te amo. Por favor. Me desculpe. Não foi por querer. Muito obrigada. Tenho certeza que se procurar encontrarei outras palavras com significados semelhantes que podem transformar muitas brigas em romances, modificar situações difíceis, mudar cenários sombrios, metamorfosear uma discussão sem fim.

E são termos que apresentam sons tão lindos, tão harmônicos, tão melódicos. Dizer eu te amo, seja para o parceiro ou parceira, para o pai ou mãe, para o filho ou filha, para o afilhado ou afilhada, para o amigo ou amiga, parece música nos ouvidos de quem escuta. Solicitar alguma coisa dizendo por favor é quase a certeza de que será atendido. Ter a humildade de pedir desculpas é um dos atos mais grandiosos que um ser humano pode fazer. Admitir que fez algo, mas não foi por querer é como entoar uma linda canção de ninar. E, finalmente, proferir um muito obrigado ou obrigada é de um valor indescritível, imensurável, surpreendente.

Na língua portuguesa, porque é nesta que julgo ter mais conhecimento, existem muitas palavras ou expressões habilitadas para provocar maravilhas. Como se fossem mantras. E, se algumas palavras, uma vez ditas, mudam muitas situações até então classificadas como irreversíveis, imaginem se elas não são capazes de mudar o mundo. Penso que estamos todos e todas aqui nesta terra necessitados e necessitadas de pequenas palavras e termos como "eu te amo, por favor, me desculpe, não foi por querer e muito obrigada". Vamos praticar!

*Coluna originalmente publicada em 23/08/2017.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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