Porto nem tão alegre, mas ainda bela, comemora 247 anos

Por Márcia Martins

A capital gaúcha, na terça-feira, 26, assoprou, com o fôlego que lhe resta como uma anciã já com pequenas limitações da idade, as 247 velinhas do seu aniversário. Na data comemorativa, Porto Alegre foi saudada na mídia impressa e eletrônica com matérias enaltecendo as suas belezas, fotos lindas de seus principais pontos turísticos foram postadas nas redes sociais e o aniversário foi falado em todas as rodas de conversas. E eu, uma apaixonada confessa, nunca escondi meu amor incondicional pela cidade onde nasci e sempre vivi, só tenho a agradecer pelos momentos em que Porto, nem mais tão alegre, ainda me brinda com a sua boniteza.

Obrigada cidade das esquinas esquisitas, das nuanças de paredes e da rua encantada que o poeta alegretense Mario Quintana nem em sonhos imaginou. Obrigada cidade dos parques e praças lotadas nos finais de semana e pelas sombras que estes lugares ainda oferecem aos que desbravam suas trilhas em caminhadas nos fins de tardes. Obrigada cidade dos cheiros, tons e sabores do Mercado Público, inaugurado em 1869, prédio encravado no Centro Histórico e que, hoje, faz parte do Patrimônio Histórico de Porto Alegre. Obrigada cidade que sempre me encantou, me acolheu, me abraçou e me fez ficar, apesar de alguns convites para trabalhar em outros municípios do País.

Agradeço emocionada pela beleza que se apresenta resistente na Praça da Matriz, também no Centro Histórico, que é ladeada pelos três Poderes, e na Praça da Alfândega, que só recebe a devida atenção da administração municipal durante a tradicional Feira do Livro. Rendo-me à formosura da Casa de Cultura Mario Quintana, antigo Hotel Majestic, onde em cada canto respira-se arte, cultura e literatura, remetendo muito às memórias de seu ilustre hóspede: o poeta Mario Quintana que lá viveu de 1968 a 1980. E aplaudo a luxuosidade, a opulência e o esplendor do Theatro São Pedro, o mais antigo da cidade e que recebe nomes consagrados da dramaturgia nacional.

Não posso deixar de mencionar a minha gratidão pela diversidade de estabelecimentos comerciais, bancários, rostos e tipos diversos que habitam e circulam pela Rua dos Andradas, coração nervoso do centro da Capital. E, principalmente, meu agradecimento sincero quando consigo caminhar pela via, também conhecida como Rua da Praia, sem pisar nos produtos dos ambulantes esparramados nas calçadas, onde se encontra tudo o que possa ser imaginado (veda-porta, camisetas falsificadas de times de futebol, cachorros de pelúcia que latem, pau de selfie, meias, eletrônicos de pequeno porte, carregadores de celulares). É um teste de paciência caminhar entre os camelôs.

Porto Alegre me oferece lindos cinemas localizados em shoppings, onde passo minhas tardes de sábado, cafés cativantes na Cidade Baixa ou no Moinhos de Vento, onde gosto de conversar com as amigas que coleciono dos vários empregos que já tive, o mais saboroso sorvete que é especialidade da Banca 40 do Mercado Público e no mesmo local o imperdível bolinho de bacalhau do Gambrinus, que concorre em pé de igualdade com o bolinho do Tuim, bar na Rua da Ladeira, quase no encontro com a Rua da Praia, que é famoso também pela excelência do chope servido.

Poderia escrever linhas e linhas para agradecer a cidade que tem como cartão postal o pôr do sol mais lindo que já conheci, o Parque da Redenção com seus espaços verdes, amplos e democráticos no bairro Bom Fim, os sucos da Lancheria do Parque, onde se reúnem pessoas de todas as tribos e idades, perto da Redenção e do Brique, na agitada Avenida Osvaldo Aranha. E nem pouparia elogios ao Bom Fim, bairro em que resido há mais de 25 anos, entre idas e vindas, e conheço de olhos fechados as características de cada uma de suas ruas. Já morei em pelo menos três ruas do 'Bomfa' e caminho todos os dias pelas vias do bairro.

Mas, na comemoração dos seus 247 anos, minha querida Porto Alegre, trago-te meus pedidos para que este imenso amor que desenvolvo por ti não se perca com tantos desmazelos que te invadem nos últimos anos. Volte a ser aquela cidade que recebeu, da ONU, o título de metrópole número 1 em qualidade de vida em 1998, 2001 e 2003. Volte a ter um transporte público que orgulhe a cidade, parques e praças arborizadas, ruas com iluminação pública suficientes capazes de inibir, um pouco, a violência crescente e que vitima a população. Volte a ser a capital das grandes obras de circulação urbana para reduzir os congestionamentos. Volte a ser o orgulho de todos os seus moradores.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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