Prá gente medir o tempo

      O turismo serve pra gente medir a idade. E a ecologia também. Na verdade, depois de um certo tempo, medir a idade é quase …

      O turismo serve pra gente medir a idade. E a ecologia também. Na verdade, depois de um certo tempo, medir a idade é quase inevitável. Torna-se um hábito deselegante. E surge nas mais inesperadas formas. Podemos ver a passagem do tempo visitando, por diversas vezes, um mesmo local turístico e ecologicamente fundamental.
      A Cascata do Caracol, em Canela, na serra gaúcha, por exemplo. Descer os oitocentos e tantos degraus dentro da vegetação da encosta é um exercício obrigatório. A descida é difusa. Não conhecemos bem o local ou não lembramos de ter visto as árvores de tão perto, de baixo e para cima. As pessoas que sobem tentam nos avisar do que se trata. Porém, curiosos e corajosos, desejosos de que possamos subir novamente, seguimos para a água que por sua vez sobe em gotas muito leves e, segundo o paulista mais afoito, vê-se até arco-íris concêntricos, lá da base.
      No entanto, a descida mais profunda que a memória insiste em devolver é de quando descíamos a encosta com a coragem mais agressiva nas trilhas e nos emocionantes encontros inesperados com a água, já próximos à concha de pedra.
      Curiosa é a superioridade que apresentamos ao subir, já experientes, deixando a quem desce, aquela mensagem cifrada e aquele olhar de sei o que te espera.
      Outra hora de medir o tempo é perceber os avanços ecológicos que acontecem no local. Alguns benefícios são perfumaria, porém, outros, já ansiosamente esperados. E os resultados são espantosos, tanto para quem organiza como para quem usufrui. A casa do Lobo Guará, programa ecológico do Parque, está muito mais atuante (do que há meia dúzia de anos). A Casa, outrora fechada, estava incipiente e não tinha o seu atual movimento, o que já era esperado. E pelo visto, o trabalho foi lento, mas compensador. Prova de que civilização se aprende é a exposição onde se sabe que no Parque 92% do público deposita hoje o lixo em lixeiras. O rebelde persistente é o chicle, encontrado ainda com freqüência fifty-fifty nas trilhas naturais e nos recipientes próprios para o lixo.
      Talvez por ele ser pequeno e sorrateiro. Algo de nosso que precisamos colocar fora, transgredindo, e logo contra a natureza, a nossa natureza.

A referência à idade, por mais algum tempo, esteve nas dores lancinantes que senti nas pernas por dias ao subir e descer escadas como se a memória persistisse em manter vivo pelo menos aquele instante de frescor úmido no meio do inverno seco com sol. Dá realmente saudades.
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