Produção randômica

      Sabe quando você produz idéias de um modo associativo, sem compromisso com um fim, nem compromisso com alguma proposta antecipada? Pois a isto chamo …

img src="fotos/clo.jpg" align="right" border="1">      Sabe quando você produz idéias de um modo associativo, sem compromisso com um fim, nem compromisso com alguma proposta antecipada? Pois a isto chamo produção randômica. Quando você tem um impulso e tenta transformá-lo em algo palpável, compreensível, aproveitável. Pode ser um método associativo, se não me engano, utilizado na psicologia para tirar de dentro das pessoas qualquer pista para encontrar alguma coisa.
      Para alguns desafortunados, também chamados criativos com energia demais, aqueles que já nasceram dentro de um caldeirão de poção mágica, onde caiu o Obelix, das criaturas gaulesas, esta criação é completamente pós-moderna. É uma criação em um mundo onde não há tempo para ler Euclides da Cunha. É como disse muito bem dito (e bendito) Flávio Aguiar, professor da Usp, jornalista, escritor, filósofo e mais um para minha lista de gurus: quem leu Sertões deve imprimir uma camiseta com os ditos "Eu li Sertões" para consolidar a auto-estima e dar continuidade ao orgulho de sermos brasileiros e leitores.
      A propósito, sua palestra na Usina do Gasômetro em promoção da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre poderia ter entrado tarde adentro. Disse Aguiar: para desfrutarmos da literatura, do pensamento e da mágica do conhecimento não é preciso muito. Algumas bibliotecas públicas, uma poltrona, uma luz e um copo de vinho ou refresco. Porém, ele esqueceu que o mundo atrapalha. Pelo menos a nós, criados em uma fragmentada sociedade cultural, onde ora o objeto está aqui, ora está lá. Sem tempo para ir para frente ou para trás. E o sujeito vê-se às voltas com as crianças clamando por atenção, a tevê, o sol, as tarefas profissionais, as horas que se debruçam sobre o relógio e o celular que manda mensagens de promoções para o dia dos pais.
      Não tive oportunidade, mas gostaria de ter perguntado se ele está preparado para ser o bode exultório dos gaúchos. É um conceito em que a gente elege aqueles que nos representam perante aquele mundo de verdade, já que aqui, onde vivemos, é um lugar qualquer fora do mundo, abaixo da humanidade, um lugar que precisa se afirmar como existente, importante e verdadeiro.
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