Quem serão as próximas vítimas?

Por Cris De Luca

Foi mais um final de semana triste por aqui. Foi mais um final de semana pensando na aflição de famílias de vítimas de mais uma tragédia. Foi mais um final de semana tentando entender porque o ser humano coloca o dinheiro e a ganância à frente de tudo. Foi mais um final de semana de coração pesado e tentativa de envio de boas vibrações para vítimas de Brumadinho, seus familiares e toda a equipe que está trabalhando no resgate. Foi mais um final de semana de chorar encolhida no sofá.

Revivemos uma situação que ocorreu há pouco mais de três anos, em Mariana. Apesar da dimensão de vítimas fatais ser bem maior em Brumadinho, a causa foi a mesma: negligência. Negligência pura. Por mais que se diga que a barragem teve verificação no início de janeiro e que estava tudo certo, segundo os especialistas. Certo para quem, cara pálida? E quantas outras barragens estão nesta mesma situação somente em Minas Gerais? É tanta gente envolvida no processo que a gente nem sabe por onde começar a achar culpados. Sim, neste caso, temos e devemos achar os culpados. Por mais que a gente veja que nem sempre eles são punidos pelos seus atos, como no caso de Mariana. Como no caso do incêndio da Kiss, em Santa Maria, que completou seis anos neste domingo sem ter sequer o julgamento realizado.

E os culpados não se limitam aos CEOs e presidentes dessas empresas, aos órgãos públicos envolvidos em todo processo de liberação de obras, fiscalização e afins também devem ser cobrados e investigados. Por isso, é importante também ficarmos de olho quando o governo federal fala em flexibilizar leis ambientais, quando declara que o Ibama é uma fábrica de multas. Pois bem, a primeira notícia que ouvi sobre a intervenção do governo em Brumadinho, foi a multa que o órgão estava aplicando na Vale. Aí, fiquei remoendo: esses recursos vão simplesmente para os cofres públicos ou podem ser utilizados para recuperação da área degradada e no suporte às vítimas e suas famílias? Se alguém tiver uma noção, por favor, #ajuda eu!

Na minha opinião (não que ela vá fazer alguma diferença), as leis que liberam licenças e servem para o gerenciamento de impacto ambiental não devem ser facilitadas, nem facilitadoras e nem deve ser um processo sem estudos profundos e de qualidade. Bem pelo contrário, devem ser cada vez mais rígidas e conter mais pontos de responsabilização das empresas, o que não significa ter um processo mais moroso. Novos empreendimentos que interferem diretamente na vida das pessoas, devem ter a comunidade envolvida na discussão de implementação e empresários devem ter a dignidade de expor de forma transparente todos os riscos envolvidos nos projetos, principalmente, os que envolvem vidas. É claro que é importante e necessário pensarmos no que vai gerar na economia, que o povo vai ter mais emprego, mas será que isso vale mais do que uma vida? "Ah, Cris, mas um acidente assim não acontece sempre!" Primeiro: Mariana e Brumadinho não foram acidentes. As duas cidades são provas irrefutáveis de crimes contra a natureza e contra a população. E se o risco é grande para a vida das pessoas que moram próximas, para os funcionários da empresa, para os animais que habitam a região, não, não vale o investimento. Pelo menos, para mim, não vale.

Já sabemos que existe outra barragem em Brumadinho comprometida, que estão acompanhando, fazendo de tudo para que não haja uma desgraça ainda maior. O ideal seria que neste momento, todas as empresas que possuem barragens de rejeitos, de água ou de qualquer outro tipo, fossem investigar as condições das mesmas para evitar outros "acidentes". Ou será que ficarão esperando para fazer gerenciamento de crise? Há tempos o povo já diz que: prevenir é melhor que remediar.

Oremos pelos que foram e pelos que ficaram!

Que estejam e fiquem em paz!

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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