Sei, a Bienal

A 4a Bienal do Mercosul. A intrigante de dois em dois anos. Pena que as pessoas a apreciem com pressa. Como quem corre em …

A 4a Bienal do Mercosul. A intrigante de dois em dois anos. Pena que as pessoas a apreciem com pressa. Como quem corre em museus pelo mundo, vencendo obstáculos. A gente pergunta e ouve: só falta o Margs ou o Santander?. ou o Memorial, a Usina, o Cais. Por outro lado, é bonito de ver que na mente das pessoas já se arma a rede de questões. O racional, hoje, impera. A sensibilidade, porém? Como não entender algumas das obras citadas como estranhas? Antes de mais nada são lindas, coloridas, diferentes. Falta apenas que as pessoas se exponham a elas. Pelo menos tentar isto com fervor. Expor os sentidos é arriscado. O silêncio que existe junto a uma obra deve ser o mesmo do autor em criação da mesma obra. Mal comparando, seria como a profissão de coveiro, esta a do artista. Se ele não é solene, quem o será? Só que em um enterro, a sensibilidade pode chegar ao descontrole. As pessoas em geral evitam cemitérios, por medo da instabilidade emocional. Por isso, quando gostamos de uma obra de arte, é quando percebemos mudanças em nós. Do nada, surgem emoções diferentes diante dela. Porém, hoje, muito mais raciocínios.
Gostaria que as próximas Bienais perdessem essa situação de passarela. As Bienais poderiam ser antes praças, em que as pessoas têm todo o tempo do mundo de sobra, e ao mesmo tempo ser templo, para que elas possam se sentir em um ambiente sagrado - e por que não?
Assim, senti falta de uma ambientação melhor, por exemplo, para se apreciar os móbiles no terceiro andar da Usina do Gasômetro de Porto Alegre. Apesar de ricos em diversos aspectos (complexidade, leveza, coloridos e movimentos no espaço), a forma expositiva dos móbiles não favorecia o conforto do público para apreciá-los. As pessoas precisam olhar para cima, caminhar, observar, sentir e, sobretudo não tropeçar, ao mesmo tempo. E, observe-se, a tendência do público é aumentar a velocidade de circulação. Além disso, os móbiles expostos linearmente sugerem uma proposta contrária ao princípio mobile. Tal forma simplificada de exposição chama atenção em contraste a um espaço interior gigantesco como aquele.
A Bienal do Mercosul realmente é uma incógnita.

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