Um ministério notável

Por Flávio Dutra

Enquanto a maioria dos candidatos a cargos majoritários promete diminuir o número de secretarias e ministérios, eu empreenderia uma campanha na contramão desse encolhimento demagógico e oportunista. E criaria um conjunto de novas estruturas estatais, pois identifico importantes áreas desassistidas ou sem controle pelo poder público. Assumiria, porém, o compromisso de buscar para comandá-las os quadros mais capacitados, profissionais de reconhecido saber, um time de notáveis, como o Grêmio.

Daria prioridade ao Ministério da Gastronomia, da Enologia e do Lúpulo, para qualificar ainda mais a boa mesa tupiniquim, com a garantia de que as iguarias  seriam corretamente harmonizadas com a carta de vinhos. Haveria um departamento exclusivo para cervejas, sendo terminantemente proibidas licenças de fabricação para as de trigo, de banana, de chocolate e, especialmente, a de erva-mate. Convidaria para assumir esse ministério o Rodrigo Hilbert, que me parece ter um perfil adequado ao cargo, além do que a primeira dama da pasta poderia ser a mestra de cerimônia dos eventos ministeriais. Um luxo. Para o departamento de Veganos cogitaria a irmã da Preta Gil, a Bela Gil e suas receitas saudáveis.

Já o Ministério do VAR seria criado para dar uma resposta à questão transcendental da arbitragem esportiva, que tanto aflige os brasileiros e tantas polêmicas provoca, com alto potencial de geração de conflitos e desordens. Portanto, trata-se de assunto sério, de coesão social e segurança nacional, que não pode ficar sob a responsabilidade daqueles incompetentes da CBF. A ação desse ministério começaria com o futebol e seria estendida a outros esportes e jogos, inclusive bocha, bolão, truco e cancha reta. Para dirigir a pasta será convidado Arnaldo Cesar Coelho, que já anunciou o desejo de se aposentar da Globo. Galvão Bueno nem para a posse será convidado.

O Ministério das Redes Sociais virá para regular a zorra em que se transformaram essas manifestações, mas pode ser substituído por uma empresa pública, a Brasredes, que vai atuar com severidade para coibir abusos, desaforos, assédios, fake news, pedidos de correntes, fotos de pets e de comilanças. Serão vedadas expressões como 'bora lá', 'aí é que me refiro', os KKKKs, Hahahas, e falsidades tipo 'linda!', 'amo muito!' e recados que ninguém entende. Flautas esportivas serão permitidas e até incentivadas, afinal, é preciso dar alegria ao povo. Em princípio, pensei para liderar esse importante ministério uma parente que entende tudo de redes sociais e se move por rígidos padrões éticos, mas não faltaria quem me acusasse de nepotismo, por isso, a vaga ainda está em aberto.

O Ministério da Imprevidência vai assumir todos os problemas que emperram o Ministério da Previdência, inclusive o pagamento de pensões indevidas e aposentadorias acima do teto, e, assim, permitir que este cumpra seu papel de garantir uma aposentadoria digna aos brasileiros. Difícil vai ser encontrar um imprevidente para assumir o novo ministério.

Por fim, será criado o Ministério das Utopias, entregue a um dos atuais candidatos, que prometem o paraíso na terra sem explicar como chegar lá. O ministro terá toda a liberdade para fantasiar projetos e projetar fantasias, nada que se viabilize, mas mantendo-se entretido, sem atrapalhar as outras ações governamentais. Reconheço que o Lula já tentou algo semelhante com o filósofo Mangabeira Unger - que se apresentava também como teórico social - e a então Secretaria de Assuntos Estratégicos. Era erudição demais para o ex-presidente e a tal secretaria foi extinta.

O projeto todo de ampliação do gabinete ministerial é ambicioso, só falta um partido corajoso abraçá-lo, de preferência, um radical de centro que banque uma candidatura inovadora.

Em tempo, antes que me interpretem mal: é brincadeira, gente, se bem que perto de algumas propostas que ouvi na atual campanha, as besteiras aqui sugeridas nem são tão risíveis assim.

Pensem nisso quando forem votar no próximo domingo.

 

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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