"Sirvam nossas façanhas" vale para o futebol?
Por Rafael Cechin
A Semana Farroupilha, sabemos, acende nos gaúchos um orgulho histórico. E não vale aqui entrar no mérito sobre derrotas ou vitórias, no momento atual ou na distante revolução de 1835. Fato é que nossas façanhas no futebol não servem de modelo a terra alguma. Os "farrapos" da dupla Gre-Nal se desmancham cada vez mais, perdendo espaço para outros estados.
Lembremos que a Revolução Farroupilha teve origem na insatisfação de nossos estancieiros contra os impostos sobre o charque. O domínio do centro do país, na época Império, incomodou quem estava mais ao sul. A realidade não anda muito diferente agora. Qual torcida está satisfeita com o desempenho de Grêmio e Inter? O que parece longe de acontecer dentro de campo é uma reação contra essa supremacia de paulistas, cariocas, mineiros e até de equipes do nordeste que está conseguindo ser melhor do que as nossas. Até quando?
No Brasileirão de 2024 fomos duramente afetados pela enchente de maio. Um fator externo que deixou consequências terríveis aos clubes gaúchos. Mas não vamos esquecer que não faturamos um título no principal campeonato nacional desde 1996. Quase há 30 anos. A principal expectativa na atual temporada estava no lado vermelho. Com foco maior na competição que não vence há mais de quatro décadas, os colorados acreditaram na planejamento e no elenco montados. De novo, mesmo que restem rodadas suficientes para uma eventual virada, não vai acontecer.
O Inter até que hoje está mais perto da "aurora precursora" no ano. A vitória sobre o Cuiabá não apenas teve resultado, foi dos melhores desempenhos do time em 2024. Consistente na frente e atrás, busca mais do que nunca o valorizado prêmio de consolo que é a vaga na Libertadores. Ah, se não tivesse marcado passo há alguns meses. No embalo das novidades Gabriel Carvalho, Borre e Bernabei, fazendo aparecer Fernando, Thiago Maia, Bruno Gomes e Wesley, e ainda reabilitando Alan Patrick e Mercado o técnico Roger Machado parece entrar no caminho certo. Tem pontuação e desempenho.
No lado do Grêmio a situação é pior. Demorando para reagir, num ano cheio de altos e baixos, pode ficar até dezembro lutando contra o rebaixamento. A sequência não favorece. Depois do empate frustrante diante do Bragantino fora de casa, tendo ficado duas vezes na frente do placar e cedido o empate em ambas, encara Flamengo, Botafogo e Fortaleza, justamente quem briga pela liderança, com uma "folguinha" em jogo atrasado contra o Criciúma. Bem difícil para quem está vacilando tanto, principalmente na defesa, e ainda enfrenta contestações ao treinador que também é ídolo.
No sobe e desce da gangorra somos coadjuvantes no futebol da atualidade. Dentro das quatro linhas, talvez igual à economia (exceção no agro, claro), política, artes, cena musical, educação, saúde e muito mais, não temos mais façanhas para sermos modelos à toda terra. Repito a pergunta: até quando? No domingo, meu palpite é pessimista: a dupla Gre-Nal não vence Flamengo e São Paulo. Vai derrapar de novo. Façam suas apostas.