7 lições que já aprendi com o coronavírus

Por Anelise Zanoni

Confesso que no terceiro dia de confinamento em casa, devido à quarentena do coronavírus, sentei e chorei. Já falei aqui que tive press trips canceladas, projetos adiados e empresas caloteiras no meu caminho e tudo isso, somado à rotina de dona de casa, me derrubou. 

Poucas horas depois da minha crise e depois de uma longa conversa com meu marido e sócio, baixei a guarda. Aprendi que era momento de aceitar o que estava acontecendo não só comigo, mas com o mundo, e partir mais leve para essa verdadeira guerra dentro de mim. 

Pouco mais de uma semana se passou depois do meu ataque histérico e posso confirmar que já aprendi algumas coisas importantes neste percurso que um dia vai terminar. Decidi compartilhar alguns ensinamentos:

 

  • Ficar em casa é caótico, mas é uma oportunidade

 

Há mais de um ano trabalho em home office e em coworking, mas dessa vez é diferente. 

É preciso ser boa equilibrista para escrever um texto, pensar em novos projetos, conferir se o arroz não está queimando, se o filho já fez cocô, se o lixo foi pra rua, se o boleto já foi pago. São tantas atividades ao mesmo tempo que esses dias fiquei encantada com a sinceridade de um áudio que recebi de uma mãe desesperada. Por causa da correria das crianças dentro de casa e da rotina maluca, ela dizia que não estava fazendo home office, mas sim um hell's office - a verdadeira porta do inferno!

Não tá fácil a vida em home office, mas é uma grande experiência. Diga aí, quantas vezes você já teve a oportunidade de viver esse caos?

No meio da confusão, podemos ficar mais perto das pessoas que amamos. Podemos ler o livro para o filho sem pressa e até debater os noticiários da TV, coisa que eu nem sei qual foi a última vez que eu havia feito!

Sem falar que a alma de cozinheira também desabrocha. Neste período, saem bolos quentinhos do forno, panquecas, e outras tantas receitas engavetadas. 

É hora de não se culpar por comer demais, mas de aproveitar o lado bom desse confinamento!

 

  • Preservar a rede de relacionamentos é fundamental

 

Mais do que nunca, precisamos ter consciência de que as pessoas são fundamentais na nossa vida. Neste momento, é importante dividir as dores e angústias com amigos, colegas de trabalho e familiares. Está (literalmente) todo mundo vivendo dramas muito parecidos e esse vírus nos mostra que somos todos iguais: seres frágeis e que precisam apenas de saúde e amor para viver!

 

  • Olhar o outro nos acalma

 

Conhecer a realidade de outras pessoas faz a gente se sentir grato por estar numa posição privilegiada e instiga nossos sentimentos de solidariedade. Nestes últimos dias lancei uma série online de lives com pessoas que vivem em outros países - para sabermos como está a realidade do coronavírus.

Fiquei feliz demais com o projeto que criei porque, além de contribuir com informações verdadeiras sobre a realidade do outro lado do mundo, me dei conta de que minha carreira de professora fez com que eu tivesse dezenas de ex-alunos espalhados por diferentes países. É muito gratificante saber que há jornalistas brasileiros atravessando fronteiras. 

Ao mesmo tempo, tive a felicidade de conhecer a realidade da Itália, Estados Unidos, Alemanha, China, e tive certeza de que vamos sair dessa crise logo logo.

 

  • Na crise surgem boas ideias

 

As crises servem para nos impactar, mas precisamos reagir.

Pode ser que uma boa ideia não tenha surgido ainda, mas a cabeça começa a borbulhar com possibilidades do que fazer nos próximos meses para superar esse novo cenário que teremos na economia e nas nossas rotinas. Com certeza, as crises nos desestabilizam, mas podem vir seguidas de notícias muito boas quando tudo passa.

 

  • O papel do jornalista é cada vez mais importante

 

Até pouquíssimo tempo, muita gente achava que o trabalho do jornalista poderia ser substituído por qualquer pessoa capaz de escrever um texto, fazer um vídeo ou tirar uma foto com celular. A cobertura jornalística sobre o coronavírus prova que o jornalismo é fundamental para revelar o que está por trás de uma crise, para debater temas sérios e até para esclarecer pronunciamentos duvidosos. Mais do que nunca, o jornalismo sério é capaz de eliminar as fake news e deixar as pessoas mais seguras e informadas. 

 

  • No ócio, escolha apenas o que te faz bem

 

No meio desse caos, escolhi fazer só o que me faz bem. O Instagram e o Facebook às vezes me fazem muito mal. Por isso, elimino da minha frente os stories que ostentam excesso de trabalho num momento em que muita gente está perdendo empregos, desfiles de moda em closets repletos de roupas de grife, palavras de ódio, brigas políticas e números alarmantes de mortes (o que só amplia minha ansiedade e medo).

Percebi que era hora de escolher assuntos que me tranquilizam e que ajudam na minha criatividade. Resgatei um daqueles livros para pintar com lápis de cor, ouço mais música, caminho dentro do condomínio e até terminei uma série no Netflix (confesso: pela primeira vez na vida!).

 

  • O importante é ter saúde, dinheiro a gente corre atrás

 

Talvez este seja o ensinamento mais importante para mim e meu mantra nos últimos dias. Em 2016 vivi durante 20 dias a experiência do duelo entre a vida e a morte ao parir um bebê que precisou fazer uma cirurgia com 4 dias de vida. Precisei viver um dia de cada vez porque tinha um filho que precisava de uma mãe forte ao seu lado e crente de que tudo daria certo. Naquele momento, nem lembrava que o resto do mundo existia, porque estava focada em resolver o problema, apoiando o pequeno em todas necessidades que tinha. Deu certo e aprendi que nada é tão caro quanto a saúde.

Hoje posso dizer que, se faltar dinheiro, trabalho, a gente corre atrás. Podemos vender o que temos, trabalhar com qualquer coisa. Sem saúde, não temos opção.

Por isso, estou preferindo ficar em casa, no meu hell's office e feliz! Sei que toda crise tem um dia para terminar.

Autor
[email protected] Mestre e doutora em Comunicação Social, a jornalista é CEO da Way Content Agência da Comunicação, especializada em turismo, gastronomia e estilo de vida, e fundadora do projeto Travelterapia, que divulga destinos, experiências e cria projetos de branded content. Em 2019 foi finalista da categoria Imprensa do Prêmio Nacional de Turismo, promovido pelo Ministério do Turismo. Tem experiência como repórter e editora, e é freelancer de publicações como Viagem Estadão e Veja Comer & Beber. Trabalhou 12 anos na redação do jornal Zero Hora e produziu conteúdos para veículos como Sunday Independent, Hola!, Contigo!, Playboy, Veja, Globo.com e Terra. Também atuou por 10 anos como professora de universidades como Unisinos e ESPM, passando pelos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Produção Fonográfica. Atualmente pesquisa o papel da imprensa no desenvolvimento do turismo e já estudou em países como Irlanda, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.

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