A Indomada e o realismo mágico na TV brasileira

Por Marina Mentz

19/09/2025 14:12 / Atualizado em 19/09/2025 14:14
A Indomada e o realismo mágico na TV brasileira

Em um país que, naquele momento, estava acostumado a separar o que é realidade do que é fantasia, A Indomada chegou à televisão em 1997 pra misturar as duas coisas com um pouco mais de tudo. Escrita por Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, era novela das oito na Globo e resultou em um dos maiores experimentos de realismo mágico da teledramaturgia brasileira. E, talvez por isso mesmo, segue sendo lembrada com entusiasmo, estranhamento e afeto. Ainda lembramos de expressões como ?Oxente, my God? ou objetivamos algo como ?Um Must?. O Cadeirudo, vira e mexe, é lembrado por alguém, e se há um buraco bem fundo no chão, sempre aparece alguém dizendo que ele deve levar à China.

A trama se passa na fictícia Greenville, cidade no interior de Pernambuco colonizada por ingleses. Ali, sotaques britânicos convivem com expressões nordestinas, tradições locais se misturam com o sobrenatural e personagens falam de ?folga na repartição? ao mesmo tempo que invocam entidades e enfrentam forças invisíveis. A novela construiu um mundo próprio com tudo aquilo que é bem-vindo no realismo mágico: exagero, incoerência, fantasia. E ainda assim talvez seja uma das novelas dos anos 1990 que melhor resume identidades brasileiras. A história é atemporal no que diz respeito aos comportamentos sociais e, especialmente, nos conflitos políticos.

Eva Wilma deu vida à inesquecível vilã Maria Altiva, talvez uma das personagens mais excêntricas e cômicas da história da TV, com seu vocabulário inventado, suas frases em ?portunhol britânico? e seu bordão inesquecível: ?Oxente, my God!?. Adriana Esteves interpreta a protagonista Lúcia Helena, com narrativa marcada por questões de identidade, pertencimento e liberdade. O elenco teve também José Mayer, Ary Fontoura, Betty Faria, e outros.

Outro ponto forte da produção foram os símbolos. O Cadeirudo, o rapaz Emanoel, e a quase prosopopeica Usina Monguaba. Os nomes dos moradores misturavam sobrenomes ingleses com sonoridades locais. Essa mistura de gêneros, sotaques e atmosferas foi ousada para a televisão aberta enquanto outras novelas buscavam retratar o Brasil mais literar. A Indomada escancarou o absurdo como linguagem legítima para falar do cotidiano, das estruturas de poder, da moralidade pública e da hipocrisia das elites. Foi uma novela a partir do Nordeste, e com a licença poética dos delírios coletivos.

Para uns, era exagerada demais. Para outros, um respiro criativo em meio à pasteurização dos enredos. Hoje, A Indomada pode ser vista como uma ponte entre o drama clássico das novelas e a experimentação estética que o realismo mágico latino-americano já propunha desde muito tempo antes na literatura.

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