A nova Geni e o limite

Talvez porque se escreva com quatro letras, iniciando com G, como Geni, mas o fato é que Gugu Liberato virou a nova Geni da …

Talvez porque se escreva com quatro letras, iniciando com G, como Geni, mas o fato é que Gugu Liberato virou a nova Geni da mídia brasileira. Sem dúvida ele cometeu um erro grave, ao apresentar em seu programa os "traficantes" que ameaçavam outros jornalistas. Mas a minha pergunta é: será que é só ele?
Se formos partir da premissa de que iniciativas como esta devem ser punidas (e estou convicto que sim) exemplarmente, deveríamos punir iniciativas semelhantes com o mesmo rigor e vigor. Por exemplo: colocar pessoas com aberrrações e graves deformidades físicas na TV não é algo igualmente execrável? Ter uma apresentadora de TV que fala do tamanho dos seus lábios vaginais ao vivo não é também um absurdo?
No caso Gugu Geni, o barulho está sendo desproporcional ao fato. Ou, melhor dizendo, acho que estão dando uma punição ao Gugu que não se aplica a outros casos semelhantes. A velha máxima de que todos somos iguais, mas uns mais iguais que os outros.
O problema passa também pela falta de medida. Perdemos a medida entre o que é razoável e o que não é. Foi-se o "péra aí um pouquinho" de cada um. Ou melhor, foi-se para algumas das pessoas que produzem e definem o que será veiculado nos meios de comunicação. Não acredito que para a maior parte das pessoas comuns estes fatos passem a ser vistos como corriqueiros e normais.
Outro fato que também mostra o quanto perdemos referenciais foi a invasão da passarela do Donna Fashion Iguatemi por jovens meninas para beijar, unhar e agarrar alguns bonitões da TV. Quando vi as fotos e li a reportagem, fiquei pensando que aqueles modelos viraram uma mercadoria na cabeça destas meninas. São pouco mais do que sabão em pó ou biscoitos. Alguém passível de degustação. Isto indica perda da noção entre o permitido e o não permitido.
Aprendi limites matemáticos nas aulas de Cálculo I da faculdade de engenharia da Ufrgs com a sábia professora Matilde. Mas os limites da vida, o que pode e o que não pode (ou não deve) eu aprendi em casa, com meus pais. E, é claro, no colégio, com professores e orientadores que também foram importantes.
Agora, se estabeleceu uma nova corrente pedagógica, de que educar os filhos não é igual a permitir tudo, muito pelo contrário. É saber dizer o não na hora certa, mesmo que isto seja doloroso. Houve uma época em que os pais acharam que serem permissivos era demonstração de afeto. Viu-se na prática que não é assim. Porque na vida definitivamente não é tudo que é permitido nem possível Ainda bem. Para podermos viver em sociedade, foi necessário instituir alguns códigos, regras de convivência. Se cada um fosse fazer o que achasse que era certo, viveríamos no caos. Mudar as regras, quebrá-las? Sem dúvida. Mas utilizando os instrumentos existentes e civilizados para isto.
Portanto, punir o Gugu (que na verdade não foi punido e disse que a culpa foi do SBT; quem terminou indiciado foram os "artistas-traficantes", o produtor e o jornalista da matéria) é um indicativo positivo, por um lado. A punição que ocorre a alguém público sempre é exemplar. Mostra que a sociedade não tolera determinados exageros e que há, sim, limites. Mas esta punição deve ter sempre o mesmo peso e a mesma medida, ser aplicável a todo e qualquer cidadão, não importa de quem estejamos falando.

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