Aconteceu em Basel

Por Marino Boeira

05/04/2021 16:12 / Atualizado em 05/04/2021 16:11
Aconteceu em Basel

Na época em que se estudei Geografia no Julinho, se aprendia que a Suíça era dividida em cantões, falando línguas diferentes: o francês em Genebra, o italiano em Lugano e o alemão em Zurique, Berna e Basiléia. Se sabia também que o pais ficara neutro na Segunda Guerra e que sua marca, além dos bancos famosos por sua discrição com o dinheiro dos ricos clientes, era de ser um grande fabricante de relógios cucos. E mais, seu nome oficial era Confederação Helvética. Com todas essas informações, resolvemos incluir a Suíça no nosso roteiro ferroviário anual de inverno pela Europa. A idéia era visitar Zurique e Basiléia, permanecendo um ou dois dias em cada uma delas. Genebra, quase na fronteira com a França. ficaria para outra vez. Primeiro problema que nos demos conta é que Basiléia ninguém, por lá sabe, onde fica. É Basel e pronto. Foi em Basel, que tivemos uma lição prática da diferença que existe entre o luxo ostentatório do modelo americano e o discreto luxo do modelo europeu. Por alguma razão, quando chegamos em Basel, abandonamos o nosso esquema tradicional de encontrar o hotel mais adequado às finanças de turistas brasileiros no serviço que existe pra isso na estação ferroviária e resolvemos sair logo pra rua e escolher no olho nosso hotel. Quase em frente à estação havia vários hotéis, mas logo nos inclinamos por um dele pela sua aparência mais sóbria. Um prédio simples, térreo e mais um andar, sem grandes letreiros luminosos. Apenas discretamente a palavra hotel, seguido de um sobrenome alemão, que podia ser Schneider, Jung, Muller ou Schmidt. Só não era Weber, que esse era o sobrenome da minha mãe e eu lembraria. Então nos decidimos pelo Hotel Schneider ( ou algum similar alemão) Mas, bastou abrir a porta para perceber o engano que havíamos cometido. Um sujeito, saído dos filmes de sobre reis e rainhas do passado, segurou a porta para entrarmos e nos indicou a recepção. Não tínhamos mais como recuarmos. Pelo menos uma noite, ficaríamos por lá. Fiz a maior cara de pau e disse apenas muito obrigado ? e em português ? para aquela outra figura medieval que nos levou ao quarto e que certamente estava habituado a ver sua gentileza sendo gratificada com dólares e marcos. Foi apenas uma noite, suficiente porém, para desfalcar em muito o orçamento da viagem. Ficou uma lição: as aparências, as vezes, enganam.