Aconteceu em Tacuarembó

Por Marino Boeira

05/03/2021 16:53
Aconteceu em Tacuarembó

Tem pessoas que colecionam caixas de fósforos. Outras se dedicam a guardar maços de cigarros. Como diria minha mãe, Dona Alzira, cada louco com suas manias. Eu coleciono cidades. Fotos de cidades? Não. Lembranças. Qual o critério para elas entrarem na minha coleção? Simples, é eu ter posto os pés, uma vez  ao mínimo, em sua terra. Em alguns casos fiquei dias na cidade, noutras horas e em algumas apenas alguns minutos. Como viajava seguido para São Gabriel, onde vivia os pais da minha mulher na época, costumava fazer alguns desvios no caminho normal para cidade, a BR290 e colocar mais alguns nomes na minha coleção. Num desvio à direita, conheci Cachoeira do Sul, Santa Maria e São Sepé. Em outro desvio, agora à esquerda, visitei Bagé e Dom Pedrito. Retornando de Passo Fundo a Porto Alegre pelo caminho que passa por Nova Prata, pude finalmente incluir Casca na minha coleção. Outra vez, vindo de ônibus de Passo Fundo para Porto Alegre, pela BR-386, vi passarem uma série de cidades interessantes como Ernestina, Tio Hugo, Fontoura Xavier, São José do Herval e Marques de Souza. Vi as cidades pela janela do ônibus, que não parou nenhuma vez. Confesso que fiquei tentado a incluí-las na minha lista, principalmente Tio Hugo, mas me convenci que precisava respeitar o critério que eu mesmo tinha estabelecido. Viajei muitas vezes ao Uruguai e diria que conheço razoavelmente bem Punta Del Este, Montevidéu e Colônia do Sacramento. Minha rota normal era pelo Chuí, até que resolvi ir a Punta entrando no Uruguai pela ponte Jaguarão-Rio Branco. Meu objetivo era conhecer Trinta y Tres e mais do que todas, Tacuarembó. Foi o que fiz: Rio Branco e Trinta y Tres foram passagens muito rápidas, mas  em Tacuarembó, pernoitei. A razão principal era conhecer a história da ligação de Carlos Gardel com a cidade. Todo mundo sabe que Gardel nasceu em Tolouse na França,em 11 de dezembro de 1890, de pai desconhecido e que veio com a mãe, Berthe Gandés,  para Buenos Aires, com 3 anos, se criando num bairro pobre da cidade. Quando se tornou o mais famoso cantor de tangos da Argentina, fez show pelo mundo inteiro, inclusive no Uruguai e em Tacuarembó. Meu amigo, o Dr. Franklin Cunha, que sabe tudo sobre esse tema, disse que os estancieiros uruguaios convenceram o cantor, então no início de carreira, a dizer que havia nascido em Tacuarembó, como forma de valorizar a cidade. Hoje, em Tacuarembó, duvidar disso, provoca ressentimentos entre os moradores da cidade, que fizeram inclusive um museu em sua homenagem. Desavisado, perguntei ao gerente do hotel se Gardel havia nascido mesmo na cidade. - Nasció aqui, si, este asunto de ser francés, es mentira. - Bom, Tacuarembó, está na minha lista. Quanto ao Gardel, continuo achando que ele é mesmo francês.