Amenidades, trivialidades e insignificâncias do dia a dia

Por Márcia Martins

17/10/2018 14:30 / Atualizado em 17/10/2018 14:29

Eu sei melhor do que ninguém que a vida está complicada e que seus capítulos futuros podem não ter mais finais felizes. Eu percebo melhor do que ninguém que a intolerância impera e que o resultado é muito ódio, raiva e desrespeito nas relações profissionais e pessoais. Eu compreendo melhor do que ninguém que todos e todas estão mergulhados neste cenário imundo de fake news que dominou aquela que parece ser a eleição mais suja da história deste Brasil (pelo menos nos meus 50 e muitos anos). Mas eu, hoje, vou me permitir ? apesar de tudo ? escrever somente amenidades, trivialidades e pequenas e necessárias insignificâncias do dia a dia.

Talvez até porque tenha medo de que esta liberdade de expressão seja censurada com o resultado do segundo turno das eleições presidenciais, se o candidato do ódio e do fascismo, o Jair Bolsonaro, vencer o pleito. Talvez até porque tenha um certo receio de enjoar meus leitores e leitoras (e existem sim) ao falar por três semanas consecutivas sobre o tal pleito eleitoral de 2018. Talvez até porque tenha esgotado os argumentos pacíficos e racionais para tentar explicar para aqueles que não querem mesmo entender ? não sei se por comodismo, ignorância ou sei lá o quê ? o perigo de escolher um fascista para governar o País.

Então, vou contar aqui da felicidade que é retornar ao lar doce lar, depois de um curto feriadão na casa do mano e da cunhada em Butiá, e ser recebida como se eu tivesse passado uns dois anos ausente, viajando, sem aparecer. Porque a alegria e a euforia do Quincas Fernando Martins, cusco vira-lata, ainda filhote (ele completa 12 meses em novembro), ao me ver entrar pela porta é algo indescritível. Não é possível contar as vezes em que Quincas deu pulos astronômicos para me saudar, quase me derrubando, me encheu de lambidas, me inundou de carinho e me olhou com aquelas duas bolitas de cor escura quase implorando para eu nunca mais sair e deixá-lo por um tempo.

Posso também narrar como é saudável passar uns dias longe de Porto Alegre, sem o ritmo nervoso de uma capital, sem as buzinas enlouquecidas que invadem as ruas da cidade nos horários de maior movimento, sem as filas enormes que atrapalham a fluidez nos bancos, nos supermercados, nos cinemas e nos shoppings. Ou ainda descrever de como a vida no interior é aprazível, acolhedora, com as pessoas caminhando pelas ruas sem o medo neurótico de serem assaltadas ou vítimas de alguma bala perdida. Calma. Eu sou muito urbana, sem a mínima possibilidade de migrar para uma cidade bucólica do interior. Mas, sabe-se lá. Um outro mundo sempre será possível.

E, para encerrar, relatar que estou torcendo para a inauguração da 64ª Feira do Livro de Porto Alegre, que começa em 1° de novembro e se encerra em 18 daquele mês, no seu palco tradicional, a Praça da Alfândega. Pelo menos enquanto ainda temos feira, já que o prefeito Nelson Marchezan Júnior levantou a hipótese de cobrar aluguel pelo uso da praça. Pois lá, nos seus cantos, nas barracas com os seus livros de lançamentos pendurados ou espalhados para atrair os visitantes, é que pretendo esquecer um pouco os resultados malditos destas eleições. Ah, mas hoje eu não queria mesmo falar sobre este assunto (como se fosse possível ignorar).