Antiguidades no novo ano

Por Flávio Dutra

08/01/2024 10:47
Antiguidades no novo ano

Tempos atrás, o titular da coluna Almanaque Gaúcho/ZH, o Kadão Chaves, tratou este que vos fala de ?insigne jornalista?, a propósito do prefácio que cometi para o livro 'Era uma vez em Porto Alegre', de Isaac Menda. O bom Kadão, premiadíssimo fotógrafo e, também, meu querido primo, usou o ?insigne? certamente para atiçar os preclaros, mas trêfegos companheiros de uma confraria, da qual fazemos parte e que se reúne todas as quintas-feiras, faça chuva ou faça sol. Não deu outra. Além de ?decano?, passei a ser chamado também de ?insigne?, na maioria dos casos em contextos pouco edificantes.

Insigne, preclaro, trêfego! Gosto da sonoridade dessas palavras antigas, que relembram um período do Jornalismo de muitos adjetivos e termos pretensamente cultos. Eram tempos de nosocômio, fatiota, meliante. Traduzindo: hospital, traje, delinquente. A turma das páginas esportivas, então, se esmerava, adotando termos ingleses, dos inventores do ?esporte bretão?. Havia muito goalkeeper, forward, half nas escalações, mais corner, referee, ground, junto com preciosidades abrasileiradas como peleja, tento, pelota e, melhor ainda, balão de couro. Jogador preto era ?o colored...?, e o ponteiro rápido ?um expedito?. O britânico Winston Churchill seria meu parceiro nessa preferência: ?As palavras antigas são as melhores: as breves, as melhores de todas?, afirmou o grande estadista.

Vou além nas antiguidades. Os táxis, por exemplo, eram os carros de praça, obviamente porque faziam ponto junto às praças e a um telefone para serem chamados. Ah, tínhamos os bondes, o ônibus elétrico troleibus e o papa-fila, que era metade ônibus, metade caminhão e, ainda, os micro-ônibus, avós das atuais lotações, que começaram a operar em Kombis e nem faz tanto tempo assim. O aeroporto era o campo de aviação, onde se ia para viajar de aeroplano, mas disso aí só ouvi falar. As rádios só tocavam música clássica no Dia de Finados, de preferência réquiens. 

Levei muito pinicão, distribuí e recebi muito tabefe. Tive vários amigos muquiranas, outros bem balaqueiros e alguns até pimpões e supimpas. Ficava borocoxô quando ganhava carpim e até ceroulas de presente nos natalícios, festejados com guaraná frisante, Crush e Grapette e, na falta de refrigerantes, servia-se Ki-suco mesmo ou xarope de groselha diluído em água da pena. Na escola, a ginástica era com tênis Bamba e distribuíam Biotônico Fontoura, que dava uma tonturinha e funcionou como prévia para bebidas bem mais fortes, apreciadas até hoje. 

Para quem não está entendendo bulhufas de tudo isso, porque até o antigamente mudou e agora é vintage, afirmo aos insignes, preclaros e trêfegos leitores desta hebdomadária coluna que ninguém resiste ao saudosismo de boas vivências, mesmo falando em passado quando a vida se renova em um novo ano. E com essa imersão em referências de antanho, mas firme no momento presente, projeto um futuro promissor no começo de mais um ciclo de convivência aqui em Coletiva.net. Que seja um futuro de boas memórias para todos nós.