Bananão no Modo foda-se

Há muito ficou difícil pra elite bananense e seus cúmplices seguir afirmando que seus privilégios se devem à intervenção divina, não à lei do …

Há muito ficou difícil pra elite bananense e seus cúmplices seguir afirmando que seus privilégios se devem à intervenção divina, não à lei do mais forte. Como a lenda da meritocracia não resiste à lógica mais elementar, como enguiçou a pose de guia que sabe o que é bom pro Bananão e, por extensão, pra ralé, o pessoal ligou o foda-se. Não sobraram nem os bons modos em meio à rapina da sobra dos despojos depois de séculos.
Álbum de figurinhas carimbadas: Justiça Bananense
Rafael Braga, mais conhecido como O Cara do Pinho Sol, negro, catador de recicláveis, foi preso com 0,6 gramas de maconha e um rojão. Foi acusado de associação com o tráfico. Pegou onze anos de cadeia.
Breno Solon Borges, filho de Tânia de Freitas Borges, desembargadora no Mato Grosso do Sul, branco, com vida de luxo ostentada nas redes sociais, foi pego com 136 quilos de maconha, uma pistola 9mm e munição de uso exclusivo do exército.
Uns dez dias antes, tinha caído num grampo da Polícia Federal: um bate-papo com Tiago Vinícius Vieira, gente fina, apontado como o líder de organização montada pra assassinatos, corrupção de servidores públicos, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e porte ilegal de armas. Os dois tramavam a fuga do próprio Tiago do presídio de segurança média de Três Alagoas. Segundo a PF, o filho da desembargadora atuava como "agente operacional" de Tiago.
Querem mais?
Na conversa gravada pela PF, Breno pede a Tiago que lhe venda uma submetralhadora israelense Uzi, arma, pelo que sei, um tiquinho mais perigosa que um rojão. Tiago pergunta a Breno se ele "não pode dormir na cidade" - o plano de fuga havia sido adiado por causa da chegada ao presídio de um novo detento. "Dormir eu não posso", o bom filho responde num péssimo português. "Eu tinha que ter alguma desculpa pra minha mãe também, entendeu? Se eu dormir aqui vai dar desconfiança pra minha mãe."
Breno foi tirado da prisão pela mamãe - contra as ordens do juiz. Com uma mamãe assim por que comprar uma Uzi?
Álbum de figurinhas carimbadas: a Justiça e seus representantes
Reportagem do Correio Braziliense: "Mesmo impondo um teto de gastos, Judiciário mantém salários de R$ 100 mil".
Aí Roberto Veloso, presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), diz que há irregularidades e que a entidade mandou ofício ao Conselho Nacional de Justiça para  "informar que não estamos recebendo, enquanto os juízes do tribunal de São Paulo estão". E completa: "que todos recebam, ou ninguém".
Como diz Fernando Brito, no Tijolaço: "Se é irregular, inconstitucional, como pode um juiz dizer "que todos recebam" o que é indevido? Assim, é capaz de alguém interpretar que "ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos"".
Amenidades
oOo Deu no UOL a melhor manchete do ano até o momento: "Dançarina pelada rebate críticas: "Silvio Santos enxergou minha arte"".
E que arte!, diria eu. A moça regeu uma orquestra com a bunda. Não se menciona como exatamente ela segurou a batuta.
oOo Dicionário do mau digitador.
Estatéstica. Sim, é óbvio, mas a troco de quê alguém faria uma estatística de testas? Procura de sinais de que Lombroso tinha razão? Ou é coisa de evangélico em busca do capeta?
Mataforicamente. Pois é, acabei de cometer essa nova palavra. Achei ótima. Uma palavra que tem muito a ver com os tempos sombrios em que o Bananão está metido. Ou liquidar com inimigos políticos não é o trabalho cotidiano da grande mídia?
oOo Fernando Horta fez uma observação hilariante: no Bananão, há roqueiros mais conservadores que o papa.
Bom, o caso do Lobão não é de conservadorismo, é de estupidez aguda, sem esquecer a calhordice e a vaidade ferida.

Autor
Ernani Ssó se define como ?o escritor que veio do frio?: nasceu em Bom Jesus, em 1953. Era agosto, nevava. Passou a infância ouvindo histórias e, aos 11 anos, leu seu primeiro livro sozinho:Robinson Crusoé. Em 1973, por querer ser escritor, entrou para a Faculdade de Jornalismo, que deixou um ano depois.  Em sua estréia, escreveu para O Quadrão (1974) e QI 14,(1975), publicações de humor. Foi várias vezes premiado. Desenvolve projetos literários para adultos e crianças.

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