Breakfast no Hilton

Por José Antônio Moraes de Oliveira

"Nunca dependa do governo ou das corporações

para resolver grandes problemas.

Todas as mudanças sociais vem da paixão das pessoas".

 Margaret Mead.

Era um café-da-manhã comum em um dia de outono em New York. O frio estava chegando e o Central Park já mostrava seus melhores vermelhos, ocres e dourados. Eu estava quebrando o jejum antes de um dia de muitos meetings. Mas naquela manhã, havia uma certa eletricidade no salão de café do Hilton. Em uma mesa de canto, uma senhora de cabelos brancos lia um livro enquanto bebericava seu café. Percebi que ela recebia atenções especiais do maitre e olhares respeitosos dos garções. Conclui que devia ser uma das anônimas celebridades que circulam pelas ruas e salões da Big Apple

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Foi somente um ano mais tarde, em 1979, que fiquei sabendo quem era a discreta dama de cabelos brancos daquele café-da-manhã no Hilton. Sua foto estava na primeira página do The New York Times. A legenda dizia:

"O presidente Presidente Jimmy Carter anunciou ter concedido a Medalha Presidencial da Liberdade à antropóloga Margaret Mead, recentemente falecida".

A notícia ocupava meia página do jornal, informando que a entrega da honraria à filha de Margaret Mead fora em cerimônia solene no Museu   de História Natural, onde ela trabalhou por mais de 50 anos. O jornal transcrevia trechos do discurso do embaixador na ONU, Andrew Young que fez a entrega:

"Margaret Mead foi uma estudante e um exemplar de nossa civilização. Para milhões de pessoas, ela trouxe uma visão central da antropologia cultural, dominou as disciplinas acadêmicas e as transcendeu. Era intrépida, independente, falava sem medo e permanece como modelo para os jovens e uma professora para os que tem vontade de entender nosso mundo".

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Na sequência, depoimentos de personalidades sobre detalhes da vida e  obra da escritora e antropóloga:

"Margaret Mead não se contentava com diplomas e mestrados. Nos anos 20 e 30 viajou para Samoa, as pequenas ilhas vulcânicas perdidas no meio do Oceano Pacífico. Estava interessada em comunidades primitivas porque acreditava que tais culturas isoladas poderiam servir como laboratórios para revelar normas de vida mais úteis e saudáveis para os civilizados. Viveu entre os nativos, registrando o estilo de vida de pescadores, agricultores e suas famílias. Aprendeu a carregar bebês agarrados ao pescoço e a se vestir como uma nativa. Em seus livros,      demonstrou que culturas primitivas como a samoana tinham uma compreensão clara do sexo e de suas complexidades como parte do ciclo natural de vida. E mais, que eles haviam desenvolvido respostas significativas de como lidar com essas dificuldades, fazendo suas vidas pessoais mais leves e fáceis. Margaret Mead desenvolveu uma crítica profunda da cultura dos americanos de seu tempo, afirmando:

"Às pessoas são negadas o conhecimento em primeira mão sobre o nascimento, amor e morte. Somos atormentadas por uma sociedade que não permite aos adolescentes crescerem em seu próprio ritmo, permanecendo aprisionados na pequena, frágil família nuclear da qual  não há escapatória e na qual há pouca segurança".

Ao longo de sua longa e fecunda carreira, Margaret Mead acumulou títulos, honrarias e assumiu desafios. Após a II Guerra, foi convocada pelo Pentágono a estudar os líderes do Kremlin, para tentar prever seus comportamentos na guerra fria. Escreveu 20 livros e foi curadora de centenas de pesquisas no Museu de História Natural.

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 Era muito difícil imaginar que a discreta dama no salão do Hilton era  portadora de 28 títulos honorários de academias e universidades da Europa e América. E que justamente na véspera daquela manhã, ela havia recebido seu 29º título, ao ser incluida no Hall da Fama das Mulheres Norte-americanas, ao lado de figuras como Eleanor Roosevelt, Helen Keller e Pearl S. Buck e Ella Fitzgerald.

Por essas e outras, é que se fala em New York - quando quiser saber o que acontece na cidade, pergunte ao garção mais próximo.

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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