Bugigangas da pandemônia

Por Fraga

E as multidões seguem indo às compras. Como se o comércio estivesse vendendo saúde.

Em Poa, depois de terem contribuído para elevar as estatísticas, os shoppings voltam a fechar e reabrir de novo. Perfeita sincronia com o abre-fecha das sepulturas.

Comércio reabre e deve haver duas liquidações de inverno: nas lojas e nos hospitais.

No feriado, o horário dos shoppings foi mais curto: as lojas abriram mais tarde e fecharam mais cedo. Só por isso muitas vidas foram salvas de contágio.

Se uma pandemia já desorganiza a humanidade, imagina a desorganização se fosse o fim do mundo.

Continue usando máscara no queixo. Mas depois não se queixe.

De um lado, vírus invisível. Do outro, governo sem visão científica e ministério da saúde sem transparência. Daí um Brasil de olho arregalado.

As pessoas ficam contando há quantos dias o Brasil está sem ministro da saúde, e esquecem que o país está há ano e meio sem presidente.

Torço muito pelos protestos bozonaristas nas ruas: torço que as suas máscaras não sejam eficientes.

Na pandemia, há dias que não servem pra nada. Em comparação, há gente que não serve pra dia nenhum.

Estimativa de vida, uma projeção científica, já foi completamente desmoralizada por esse crente da morte e descrente da ciência. Desafio pro IBGE, que depois da pandemia vai ter que recensear a desgraça brasileira.

"Em duas semanas, aumenta em 50% a proporção da população com anticorpos para coronavírus." Agora, pro bem geral do povo e do país, só falta desenvolver anticorporativismo e anticorporações.

As estatísticas sobre casos e óbitos por coronavírus podiam ser mais baixas, se ao menos os estatísticos não fossem infectados.

Não confio nos números sobre a covid-19: o governo usa dados viciados em cloroquina.

Em plena pandemia, essas fraudes com respiradores comprovam o óbvio: a corrupção continua com todo fôlego.

Racistas, fascistas e nazistas sem sintomas também transmitem racismo, fascismo e nazismo. E pessoas sem sintomas presidenciais também transmitem cargos a militares e ao Centrão.

Bozonaro incentiva bozonaristas a invadir hospitais. Ao arriscar mais vidas humanas, deixa claro a meta: quer o topo do ranking mundial da mortalidade.

Não, alho não destrói o coronavírus. Tem que misturar alhos com bugalhos, como fazem o Bozonaro e bozonaristas.

Bozonaro ameaça romper com a OMS e se filiar à OMF, Organização Mundial das Funerárias.

O deprimente da república já fez por merecer seu nome na História. Sugiro rebatizar o maior campo santo do país como Cemitério Jair Bolsonaro. Para lembrar os mortos por minuto e os sumidos. Para jamais esquecer da matança.

A lógica do genocida Bozonaro e seu provisório sinistro da saúde é a seguinte: se o governo deixar de informar as mortes, milhares de infectados vão parar de morrer.

Ministério da Saúde atrasa atualização diária de mortes por covid-19 e põe a culpa em quem morreu sem avisar.

Coerente com seu programa de apoio ao coronavírus, Bozonaro decreta Dia de Finados desde agora até 2/11.

Nenhum infectado por covid-19 poderá morrer sem a devida autorização do programa oficial de mortalidade do Governo Bozonaro. Os mortos que infringirem essa determinação terão suas certidões de óbitos indeferidas.

No cristianismo, as pessoas morrem e vão pro Céu ou Purgatório ou Inferno. Na pandemia, os mortos somem no limbo dos dados públicos do Ministério da Saúde.

Só de pensar na enxurrada de bostas de livros e merdas de filmes sobre a pandemia, que virão em 2021, já dá vontade de manter o distanciamento de livrarias e cinemas.

Com 10º no sul, parece haver mais aconchego. Mas também pode ser apenas confinamento.

Cuidado com o Futuro. É nele que a gente vai passar o resto da quarentena.

 

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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