Bugigangas pandêmicas

Por Fraga

Só no Brasil um anormal é capaz de pedir pro país voltar à normalidade.

O isolamento social previne o coronavírus. Mas isolar o deprimente da república evitaria riscos ainda maiores para o Brasil.

A semelhança entre o coronavírus e o Bozonaro  é a seguinte: ambos tornam a vida irrespirável.

Pela união perfeita entre verborragia e insanidade sobre a pandemia, Bozonaro é notável: eis aí um presidente louquaz.

Bom senso freia o coronavírus. Bozonaro atropela os dois.

Se inteligência e sensatez fossem vírus altamente contagiosos, mesmo assim Bozonaro seria imune.

Com o coronavírus, haja pulmão e desespero. Com o bozonavírus, haja estômago e desesperança.

Uma coisa é um cidadão doente, por coronavírus ou qualquer outra doença. Outra coisa é um presidente doentio.

Enfim, um presidente que contagia multidões. Durma-se com esse novo pesadelo.

O Brasil é uma calamidade pública com 26 estados calamitantes e um distrito federal calamitoso.

Só mesmo o Brasil pra aguentar, ao mesmo tempo, uma pandemia e um pandemônio.

Se depender dos donos de funerárias, o deprimente da república tá reeleito.

Bolsonaristas: pessoas que em vez de álcool gel preferem passar o ranho dele nas mãos.

Ei, bolsonaristas: se jejum resolvesse a situação nacional, há muito tempo nossos miseráveis já teriam salvo o país.

Carreatas nas capitais pelo fim do isolamento. Hoje em carrões, amanhã em carros fúnebres.

Os idiotas voltaram às ruas. Pra manter o isolamento e o distanciamento social, temos que reagir. Não para salvar a vida desses idiotas, mas as nossas.

Sobreviver virou loteria. E o coronavírus aposta nas aglomerações das lotéricas abertas durante a quarentena.

Quem se aglomera tá mais perto da indiferença social. Quem se mantém no distanciamento tá mais longe dela.

Em tempos de coronavírus, o perdigoto é como uma bala perdida.

Se o coronavírus não impedir as eleições 2020, lembrem do distanciamento social nas secções: 2m entre eleitores e 2 km de qualquer candidato imbecil.

O coronavírus e a atitude social afetam até a gramática: agora solitário e solidário são considerados sinônimos.

Antes de passar de vez, o coronavírus vai passar de um pro outro.

Se o coronavírus vem da China, o remédio contra ele devia custar no máximo 1,99.

Na endemia, uma região é infectada. Na epidemia, um país é contaminado. Na pandemia, o planeta é contagiado. Te cuida com os humanos, universo!

Pelo que se viu das multidões nas peixarias do Brasil, parece que o distanciamento social só proibia beijo na boca.

Contra a disseminação, até o distanciamento antissocial ajuda.

Com o distanciamento social, as ruas parecem mais civilizadas. É complicado hostilizar de longe.

A população brasileira se divide em dois grupos: os que não pagam impostos e os que pagam a taxa de mortalidade.

Tem gente que não consegue ir dormir sem antes rezar para o seu anjo da guarda. Eu, se rezasse, rezaria para um infectologista.

Feliz é o ermitão, que não precisa fazer quarentena.

Todo cuidado é pouco, porque os descuidados por aí não tem nenhum. E até andar muito próximo de você mesmo pode ser perigoso.

Tem quem ache ruim ficar em casa. E tem os sem-teto, que adorariam ficar em casa.

A vida é isso que acontece enquanto um infectado não esbarra em você ou bate à sua porta.

Shakespeare, longe da peste: Dormir, talvez sonhar.  Brasileiro em quarentena: Deitar, talvez não ter insônia.

Happy hour estilo quarentena: cada um na sacada do seu apê com sua caipigel.

Uísque, vinho, cerveja, cachaça, vodka etc, invenções pra dar segurança às pessoas. Mas só álcool gel salva.

Do jeito que o mundo vai, só volta se um outro mundo for possível.

Pra ganhar o dia durante a quarentena, basta não constar em nenhum obituário de hoje.

O problema de dizer ´o pior já passou´ é que, agora, isso precisa ser dito várias vezes ao dia.

Pra ser a última que morre, a esperança tem que ser a primeira a ficar em casa.

 

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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