Capa

Por José Antônio Moraes de Oliveira

"A guerra é como uma atriz de cinema.

Cada vez mais perigosa e cada vez menos fotogênica".

Robert Capa.

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 Ele foi o mais brilhante e inovador fotojornalista do século XX. Robert Capa nasceu anônimo em Budapest como Endre Erno Friedmann e morreu famoso no Vietnam em 1954. Tinha 40 anos de idade e deixou como legado uma vida aventurosa e um portofolio invejado por qualquer fotógrafo que ame sua profissão.Tinha como especialidade a guerra - cobriu a Guerra Civil na Espanha, a Blitz de Londres na II Guerra, a invasão da Normandia, a libertação de Paris, os conflitos entre árabes e israelenses de 1948 e todas as guerras da Indochina e do Vietnam.

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 Robert Capa não temia o perigo, ao contrário, o perseguia onde quer que estivesse. Sua Leika invadia e mostrava - sem retoques - os mais cruéis e sangrentos conflitos ao redor do mundo. O escritor e jornalista inglês Alex Kershaw, em seu livro "Sangue e Champanhe", escreveu que Bob Capa acreditava que o verdadeiro fotógrafo de jornalismo deve estar o mais próximo possível dos fatos, para conseguir documentá-los com precisão  e honestidade. Correu riscos extremos na Espanha, na praia de Omaha e nas batalhas do Sinai. E acabou morrendo ao pisar em uma mina no Vietnam. Uma frase que ele usava habitualmente, resume seu modo de encarar os desafios da vida:

"Se suas fotos não forem boas o suficiente,

você não está perto o suficiente."

 A vida de Robert Capa está pontilhada de episódios extraordinários -   alguns envoltos em névoas de mistério. Sua carreira de fotógrafo de guerra começa em 1936 durante a Guerra Civil Espanhola. Enviado para cobrir o conflito, frequenta as trincheiras anarquistas e suas fotos revelam ao mundo a violência do conflito. É dele O Soldado Caído, a mais célebre fotografia da Guerra Civil. É um flagrante que capta a fração de segundo em que um combatente é mortalmente atingido. Mas, na época, a foto suscitou acaloradas discussões - alimentadas pelo calor do radicalismo político do enfrentamento. O documentarista francês Patrick Jeudy (que se dizia admirador do mito Capa) afirmava que não havia como saber, "se a foto tirada por Capa mostra um soldado que escorregou acidentalmente ou se foi convidado a simular o momento da morte". 

 Um outro escritor, Richard Whelan, autor de uma biografia autorizada, disse que "talvez seja a mais dramática fotografia de guerra jamais tirada". Com o que concorda Esperanza Aguirre Gil de Biedma, a ex-ministra da Educação e Cultura da Espanha, que compara O Soldado Caído, com o mural Guernica de Pablo Picasso.

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 A impressionante cena da morte do soldado espanhol não é o único fato extraordinário na trajetória de Roberto Capa. Há o caso da "Maleta Mexicana" uma estória mal contada de três caixas resgatadas em 2007 em um armário na Cidade do México. As caixas, supostamente perdidas no caos que se seguiu à II Guerra Mundial, continham centenas de negativos de fotografias da Guerra Civil Espanhola tiradas por Robert Capa e seus amigos Gerda Taro e David "Chim" Seymour.

 Como estes negativos acabaram em um armário no México permanece como um enigma insolúvel. Uma das teorias é que fariam parte da bagagem do antigo embaixador mexicano na França de Vichy, que em 1939 recebeu milhares de refugiados e combatentes da Guerra Civil. A maleta foi finalmente devolvida a Cornell Capa, irmão mais jovem de Robert Capa e fundador do International Center of Photography em New York City. Mais recentemente, o Festival da Memória Ibero Americana de 2012, realizado no México, exibiu o documentário The Mexican Suitcase, da cineasta inglêsa Trisha Ziff.

 No filme, as fotos são acompanhadas por pungentes depoimentos de sobreviventes da Guerra Civil. A diretora salienta que, apesar dos 70 anos passados, as cenas captadas por Robert Capa formam uma poderosa conexão entre as novas gerações e o passado que lhes é completamente desconhecido.

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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