Cloroquinices

Por Fraga

 Corretamente administrada, a cloroquina é uma droga que funciona igual a qualquer outra droga: faz um bem danado a farmácias e drogarias e dá lucro imenso ao cartel farmacêutico internacional. De vez em quando, e em certos casos, beneficia alguns doentes, principalmente aqueles que não iriam piorar mesmo.

 A cloroquina tem efeitos colaterais não só por todos os lados mas também por cima e por baixo. Além de arritmias, que é o jeito do coração bater descompassado até parar de bater, pode causar sintomas presidenciais, como confusão, convulsões e coma. A cloroquina pode provocar alterações na retina: faz as pessoas enxergarem o Brasil como o Brasil não é, entre outras ilusões de ótica, como um sistema hospitalar sem risco de colapso.

 A cloroquina, mal administrada, pode matar ingênuos e idiotas, mal informados e mal orientados, além de seguidores ideológicos da extrema direita. Pode matar inclusive gente que nem estava disposta a morrer pelo deprimente da república.

 A cloroquina, bem administrada por um governo mal intencionado, pode favorecer a adesão de multidões fiéis diante do palácio do planalto e em quaisquer lugares onde Bozonaro fizer declarações bombásticas, canhonásticas, fuziláticas e revolvásticas. Com esse uso, a fórmula da cloroquina faz com que ela suba à cabeça até sem ingerir nenhum comprimido.

 Para preservar vidas ao redor do mundo, a OMS acaba de suspender os testes com cloroquina. Quer dizer, a Ciência já tem certeza dos riscos da cloroquina e do uso indiscriminado. Agora, só negacionistas e terraplanistas governamentais poderão usar pessoas como cobaias da cloroquina. O problema é que não faltam voluntários.

 Mas nem tudo é crítica contra a cloroquina. Segundo as funerárias, a prescrição a esmo da cloroquina pouco influencia sua atividade comercial. Para a expansão do seu negócio, o ideal seria a distribuição em massa e gratuita da cloroquina.

 Pode, inclusive, no final da pandemia, ser a salvação dos serviços funerários.

 Só o isolamento e o distanciamento sociais nos salvam. E pra quem acha que o tempo cura tudo, uma vacina contra o coronavírus é muito mais segura.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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