Co

Por Flavio Paiva

Apesar de vivermos tempos em que se fala tanto da combinação de carbono com oxigênio, quando se discute efeito estufa, queimadas na Amazônia, aqui me refiro a outro CO. O co do coworking, do compartilhar, cocriar e de muitos outros.

Se hoje a lógica é de realização conjunta, criação conjunta, há uma fortíssima importância do fator humano. Porque o que vai determinar, pela perspectiva subjetiva, o sucesso de muitas iniciativas é a disposição e mesmo o perfil das pessoas envolvidas em torno de um propósito, de um projeto, de uma iniciativa.

É preciso que todas dispam-se o que for possível de vaidades (até não muito tempo atrás, a ideia era de realização individual, que em verdade ainda convive com o que eu chamo de a era CO). O profissional procurava puxar a brasa para o seu assado, cacarejar muito ao pôr ovo e não repassar informações, numa tentativa bastante narcisista de sucesso e destaque individual.

Pois bem, houve uma mudança significativa. Está em curso, na verdade. Mas para que ela atinja os objetivos (como em grande parte vem atingindo), foi definitivamente necessária uma mudança radical de mindset.

O ser humano por natureza é um indivíduo que convive em grupos, desde a pré-história pela mais absoluta necessidade (de cooperação objetiva, quando viu que para enfrentar animais de grande porte não poderia dar cabo sozinho, mas se fosse em grupo, um poderia vigiar, vários atirarem ou baterem no animal, abatendo-o, com resultados bem mais positivos do que individualmente) não apenas do que descrevi no parêntese mas também pelo sentimento de falta e incompletude (que na época não eram tão evidentes quanto hoje), algo mais subjetivo.

Assim, estamos vivendo uma transição radical de um modelo de trabalho individualista, que premiava o profissional de sucesso solitário, a criação quase que solitária, a descoberta, para este modelo CO. O que estou descrevo aqui não é fato novo, mas fiz questão de sublinhar que se trata de uma mudança gigantesca no fazer. E principalmente no de criar, cooperar, ter sucesso e mesmo ficar feliz.

O ser humano não vai deixar de ser humano, com suas características não tão belas de inveja, ciúme, desejo de solitude e tantas outros. Mas esta disposição e atuação no sentido da cocriação, por exemplo, são verdadeiros marcos que devem ser fortemente valorizados, porque podem mesmo, se levados a fundo e de maneira generalizada, mudar o curso da humanidade. Tem potencial para isto. Veremos o que de fato ocorrerá.

Entendo que os dois aspectos, o individualista e o cooperativo vão coexistir nas pessoas. Entretanto, o que está em jogo aqui é qual deles prevalecerá. A aposta, claro, é no aspecto cooperativo, com seu potencial gigantesco de realização e mesmo de elevar o padrão de satisfação dos indivíduos. Porque quando ele passa a ser CO, ele sente-se parte do processo e este sentimento, de pertencimento e participação, de contribuição e relevância, é extremamente poderoso.

Comentários