Comunistas x Petistas

Por Marino Boeira

24/09/2025 10:45
Comunistas x Petistas

Toda a análise da realidade política, que vê apenas dois grupos de oposição ao sistema dominante, tem um caráter reducionista. Ao imaginarmos que são apenas dois segmentos que se opõem ao modelo econômico vigente no Brasil, um revolucionário, formado pelos que chamaremos de ?comunistas? e outro, - reformista, dominado pelos adeptos do Partido dos Trabalhadores ? os ?petistas? - assumimos o deliberado risco de uma simplificação, mas ela se torna necessária na medida em que buscamos afastar dessa discussão segmentos políticos menos importantes. Desde que as últimas esperanças de seu enfrentamento, através de uma união entre segmentos burgueses nacionalistas e de trabalhadores, se perderam com o suicídio de Vargas em 1954, a derrota da Legalidade de Brizola em 1961 e das Reformas de Base de Jango em 1964, o Imperialismo norte americano consolidou seu domínio no Brasil em aliança com os diversos segmentos da burguesia nacional - o bancário, o comercial e hoje principalmente o agrário, representado pelo cada vez mais poderoso agronegócio. No longo processo de retorno à ordem democrática burguesa, depois de uma ditadura militar de 21 anos, se consolidou a criação de dois grupos cada vez mais antagônicos na visão do que deveria resultar dessa luta: os revolucionários ? os nossos comunistas, munidos do conhecimento do marxismo, que pretende avançar rumo, senão ao socialismo, pelo menos ao regime nacionalista radical e os petistas ? grupo formado por antigos resistentes armados contra a ditadura militar, sindicalistas e segmentos religiosos reunidos sob a bandeira da chamada Teologia da Libertação. Obviamente, foram os petistas que, por não pregarem a revolução, mas apenas tímidas reformas, sempre tiveram algum consentimento para suas ações por parte da burguesia dominante, os que mais cresceram, a ponto de hoje deterem os principais instrumentos de mando no País, principalmente a Presidência da República. Dentro desse quadro, quais seriam as razões que levariam aquelas pessoas que, observando a realidade nacional feita de uma população vivendo em níveis inaceitáveis de miséria, de uma submissão aos interesses do imperialismo norte-americano que impedem um desenvolvimento nacional apesar das imensas riquezas nacionais, a escolher um ou outro caminho, o da revolução social ou o da conciliação de classes? Os revolucionários são movidos pela análise da história, não apenas do Brasil, mas do mundo inteiro, que mostra que o seu motor, como ensinou Marx, são as lutas de classe e eles são encontrados principalmente numa elite intelectual marxista, que mesmo tendo condições econômicas de usufruir as vantagens que o capitalismo assegura a alguns, optam pela luta ao lado dos trabalhadores. Os ?petistas?, tanto os que pertencem aos quadros do Partido dos Trabalhadores, quanto aos ditos simpatizantes do PT e principalmente do seu líder, o presidente Lula, são na maioria oriundos de uma classe média também intelectualizada, muitos vindos das universidades ou detentores de cargos públicos, que talvez por receio de perder as benesses que dispõem, optam pela conciliação de classes. Correndo o risco de simplificações, como disse no início, esse me parece o retrato mais correto do quadro político brasileiro onde se dá a disputa de poder entre uma burguesia serviçal do imperialismo norte-americano e uma oposição dividida entre os ?comunistas? revolucionários e os ?petistas? reformistas. A escolha de um dos lados da oposição é o que nos separa politicamente hoje.