Não se vê ninguém nas ruas. Aonde foram parar as multidões? Ora, escondidas do coronavírus. Cada indivíduo na sua caverna particular, como esses a seguir.

Confianamento - É o jeito de se isolar preferido das pessoas desconfiadas. Elas tentam se proteger, afastadas do convívio com gente não confiável, que é toda a população brasileira. Como desconfiam de qualquer um que veem, seu local de isolamento nem tem espelhos.

Cofiamento - Gente que gosta de passar o tempo cofiando barba e bigode e se isola mais para manter o sossego desse hábito introspectivo que por temor do coronavírus. Em vez de quarentena, com todo prazer cumprem cinquentena e sessentena. O cofiamento, é óbvio, não funciona com imberbes.

Confrilamento - Adequado para desempregados que querem, ao mesmo tempo, fugir da ameaça virótica e ainda faturar com serviços temporários, leve o tempo que levar o isolamento. Trabalhadores informais não são aceitos nesse lugar.

Cofrenamento - Para ricaços e milionários. Pra garantir o maior isolamento possível, o endinheirado retira todos os valores do seu cofre e se refugia lá. Sem nem lembrar que a superfície favorita do coronavírus pra sobreviver por mais tempo é metal liso e frio.

Confilamento - Específico para eletricistas, que se recolhem a um abrigo com um grande estoque de lâmpadas incandescentes (as outras, sem filamento, não ajudam nada na quarentena). Sua distração é testar, acendendo e apagando os bulbos dia e noite, a resistência daquele fiozinho que ilumina suas ideias.

Confiscamento - Indicado para fiscais e outros funcionários da receita federal, que mesmo isolados insistem em continuar a tributar sem dó nem piedade o contribuinte. Quer dizer, o contribuinte pode escapar do coronavírus mas nunca das garras do IR.

Confusamento - Esse tipo de isolamento confunde muito quem recorre a ele:
a pessoa não sabe onde está, por que foi para lá, até quando vai ficar. E acha que coronavírus é uma doença que se pega no banho, debaixo de antigas duchas.

Conferimento - Bom para acumuladores de coisas, possessivos, gente com mania de controlar tudo. Eles preenchem a quarentena ocupados com listinhas, planilhas, rol de qualquer espécie. Contabilizam inutilidades e até grão de poeira. Enlouquecem mas não pegam o coronavírus.

Confiascamento - Próprio para quem vive dando vexame, passando vergonha e causando fiasco em público. Essa gente se recolhe, vai pra longe do contágio e das testemunhas do seu estranho comportamento. Mesmo assim faz do novo ambiente o solitário palco da recorrente auto humilhação.

(Pelas bobagens acima, o leitor pode ver como uma quarentena pode afetar seriamente um humorista. Capaz de recuperar a graça só depois de infectado!)