Conheça seu poder de negociação

Por Anelise Zanoni

Desde que percebi que precisava pensar numa mudança de carreira, decidi apostar em diferentes áreas de atuação dentro da comunicação. Optei pela produção de conteúdo para empresas de um nicho específico e também pela criação e execução de projetos completos, o que significava investir numa trajetória de influenciadora digital e também de assessora de imprensa e empresária.

Sim, fico flanando por vários lados do jogo e não vejo problema algum quando os papéis ficam bem claros. Nessas distintas áreas, percebi que a importância da negociação na hora de fechar uma proposta de trabalho é muito semelhante, mas aprendi a compreender os diferentes momentos de quando sou contratante e sou contratada.

No papel de influenciadora digital, adoto um posicionamento claro: este é meu trabalho, preciso pagar minhas contas e, portanto, o conteúdo que estou produzindo deve ser pago (afinal, há vários anos de estudo, experiência e conhecimento). Isso significa que preciso sempre fazer escolhas e partir para negociações.

Aceito os tradicionais convites para almoços, jantares e press trips, mas preciso selecioná-los, pois isso envolve custos. Caso o convite me traga conteúdo diferenciado ou se tenho algum interesse profissional sobre ele, costumo aceitá-lo. E divulgo sem compromisso, porque entendo que foi um convite e não tenho obrigação em correr para as redes sociais anunciando onde estou ou o que estou consumindo.

Para mim, a regra é simples: quando convido alguém para ir na minha casa, não obrigo a pessoa a trazer uma garrafa de vinho ou a elogiar minha cheesecake de doce de leite! É bom ter um retorno positivo, mas não é obrigatório. Convite deveria ser sempre uma porta para a liberdade, onde a experiência sobrepõe qualquer obrigatoriedade!

Muitas vezes, os convites surgem com uma sugestão de publicação: "Quem sabe você nos visita e faz um conteúdo lindo para seu site". É aí que encontro meu momento de negociar. E foi isso que ocorreu dia desses.

Fui procurada por uma marca para usar o serviço dela durante um final de semana. Uma viagem com tempo apertadíssimo, mas com tudo incluso, tudo lindo. Nenhuma menção sobre pagamento e uma sugestão de demandas de produção de conteúdo.

Fiquei pensando: como podem trocar uma viagem rápida que eu nem pedi por minhas horas de trabalho?, pensei. Ao mesmo tempo, percebi que poderia ser um bom motivo responder a proposta explicando meu trabalho - e enviando um orçamento.

Antes de enviar minha tabela de valores, corri para um grupo no WhatsApp que reúne blogueiros de viagem e perguntei se haviam recebido a proposta com zero de orçamento. Fiquei com medo de que alguém tivesse aceito, o que reduziria a chance da minha proposta emplacar.

Não obtive respostas, então, fiz um projetinho e enviei para a empresa. E, para minha surpresa, aceitaram meu orçamento!

Fiquei muito feliz e confirmei o que já imaginava: as marcas estão investindo mais na produção de conteúdo segmentada, focada nas suas necessidades! Porém, não são bobas: muitas vezes fazem a tentativa de emplacar trabalhos sem pagar por isso.

A empresa tinha verba para projetos. Porém, estava testando o mercado e vendo se podia fazer um trabalho a custo zero. A manobra é arriscada, só que nesta área muita gente trabalha em troca de cortesias (de hotel, restaurante, transporte... e até por um prato de comida).

Eles tinham a estratégia de conseguir de graça, mas tinham budget suficiente para pagar um profissional. Então, me responderam prontamente, confirmando que poderiam pagar e que davam importância ao meu trabalho e se preocupavam em ter uma produção de conteúdo de qualidade. Pediram desconto e conversamos até chegar num valor interessante para ambas as partes.

Fechei a parceria porque negociei. Entendo que cada profissional deve saber o valor do seu trabalho. Se eu tivesse aceito sem negociar, estaria trabalhando de graça ou pagando para trabalhar - porque precisamos considerar que nosso tempo tem um custo.

O que quero mostrar a partir do exemplo é que, enquanto empresa, devemos ter estratégias de economia, sim! Mas devemos reservar verba para divulgação, que pode alavancar um negócio. Tentar algo de graça, com permuta ou cortesia é válido. Mas pode ter consequências como a não publicação do conteúdo (afinal, você não está pagando, lembra?) ou uma produção de conteúdo sem qualidade, sem resultado e métricas.

Como produtora de conteúdo, me sinto no direito de ser paga pelo trabalho, porque os boletos não esperam. Além disso, enquanto estou supostamente me divertindo, postando no Instagram e demorando horas para escrever textos no blog, meus outros clientes (pagantes) não esperam! Querem resultados, textos, fotos, etc...

Saiba negociar, não desista na primeira vez, acredite no seu trabalho! Se você acha que produzir conteúdo é importante e que você pode entregar um material de qualidade, faça um orçamento. Negocie valores, caso a empresa não tenha verba suficiente. Mas não deixe de fazer essa aposta. Os boletos não esperam!

Autor
[email protected] Mestre e doutora em Comunicação Social, a jornalista é CEO da Way Content Agência da Comunicação, especializada em turismo, gastronomia e estilo de vida, e fundadora do projeto Travelterapia, que divulga destinos, experiências e cria projetos de branded content. Em 2019 foi finalista da categoria Imprensa do Prêmio Nacional de Turismo, promovido pelo Ministério do Turismo. Tem experiência como repórter e editora, e é freelancer de publicações como Viagem Estadão e Veja Comer & Beber. Trabalhou 12 anos na redação do jornal Zero Hora e produziu conteúdos para veículos como Sunday Independent, Hola!, Contigo!, Playboy, Veja, Globo.com e Terra. Também atuou por 10 anos como professora de universidades como Unisinos e ESPM, passando pelos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Produção Fonográfica. Atualmente pesquisa o papel da imprensa no desenvolvimento do turismo e já estudou em países como Irlanda, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.

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