Consumidor culpado

Recente pesquisa ("Sonhos de consumo em tempo de mudança", da Clínica de Comunicação e Marketing Vera Aldrighi) revelou uma novidade em termos de comportamento …

Recente pesquisa ("Sonhos de consumo em tempo de mudança", da Clínica de Comunicação e Marketing Vera Aldrighi) revelou uma novidade em termos de comportamento do consumidor: o sentimento de culpa. O sentimento em si não é novidade. Há tempos o ato de consumo traz em si o sentimento de culpa. Porém, o ingrediente culpa se torna mais acentuado.
Isto deve-se ao fato de estarmos vivendo tempos mais duros. Mas também - e principalmente - ao fato de os veículos de comunicação terem se tornado tão presentes na vida das pessoas. São eles que divulgam sobreviventes comendo sopa de papel no Nordeste, por exemplo.
Em função de estarmos conectados o tempo todo à realidade e sabermos o que acontece no Japão ou na África do Sul em tempo real, temos contato instantâneo com todos os fatos, entre eles a miséria. As emissoras de TV fazem verdadeiros shows de imagens da miséria brasileira.
Até bem pouco tempo atrás, as pessoas pouco se importavam se gastavam e havia outras que nada tinham. Agora, parece haver um efeito de conscientização de que somos na verdade (e como diria Marshall McLuhan) uma aldeia global. Se tenho demais e há pessoas que têm de menos, o resultado pode ser, por exemplo, a violência.
Mas, se pensarmos um pouco mais, quem se importava com a água, tempos atrás? E com o meio ambiente? E com responsabilidade social? São mudanças que marcam a transição do comportamento do consumidor.
Há algumas décadas, o importante era consumir, ter produtos que não existiam. Não havia um pingo de consciência ambiental. O preço da produção era alto (destruição do meio ambiente), mas pouco importava. Sucederam-se ciclos, o mundo mudou. E, a partir do momento em que os bens tornaram-se acessíveis a todos, outros fatores se tornaram relevantes. Como este, o do prejuízo ao meio ambiente.
O comportamento do consumidor se modificou em muitos aspectos. Agora, há um aumento no sentimento de culpa quando do consumo.
O consumidor é, antes de tudo, um ser humano. E o ser humano é um animal para lá de complexo, que seguirá mudando em muitas coisas. A complexidade da cabeça do consumidor é um tema que vai ganhando espaço na preocupação diária dos profissionais de marketing das empresas e agências. Isto porque há uma forte tendência à comoditização dos produtos. A diferença está, cada vez mais, nas pessoas. E dentro da mente destas.

Comentários