Coopítulo 100 - O jornal

Por Vieira da Cunha

10/11/2025 11:17
Coopítulo 100 - O jornal

Eis aqui uma feliz coincidência: a centésima coluna em que resgato a rica trajetória da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre e de seu Coojornal, que escreveu uma página relevante na história do jornalismo brasileiro, coincide com a data que marca o 50º aniversário de circulação do mensário.

Vamos à história, que tenho exaltado neste espaço generoso do Coletiva.net. Em agosto de 1974, 66 jornalistas se reuniram em um ato na sede da Associação Riograndense de Imprensa para fundar a entidade, pioneira em seu gênero no país. Todos os presentes alilmentavam o desejo e o anseio explícitos de criar um jornal independente, que fosse regido e determinado exclusivamente pelos profissionais, que seriam donos e gestores do negócio.

Vale sempre ressaltar: a Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre foi uma iniciativa pioneira de um grupo de profissionais que se inquietavam com os rumos e posicionamentos da imprensa gaúcha nos anos 70, no auge da ditadura militar iniciada cerca de 10 anos antes. O que nos movia, como idealizadores e fundadores deste organismo, era o descontentamento com o jornalismo que se praticava naquela época, aliado à vontade de nós, os próprios trabalhadores, termos um jornal no qual a orientação editorial e o comando de todo o processo fossem exercidos pelo grupo de profissionais envolvidos.

E por que uma cooperativa, e não uma empresa editora convencional? Porque os próprios cooperativados detêm o controle do negócio e estão diretamente comprometidos com os resultados. Nela não há um dono, um capitalista, que seja o único a ditar as regras. Todos os associados são donos, com direitos e responsabilidades iguais. Este é um grande e decisivo diferencial em relação às empresas convencionais, seja de que ramo forem.

Não seria uma empresa qualquer, mas uma iniciativa respaldada no cooperativismo, cuja essência é a união de pessoas que comungam de objetivos comuns, um organismo essencialmente democrático, em que todos os associados têm direito a um voto, independente do valor de cotas que cada um detenha. Suas decisões são tomadas em assembleias gerais das quais participam todos os associados, com iguais direitos para votar e ser votado, por exemplo. E, aqui um apelo social capaz de motivar jovens sonhadores, não visa lucro, e sim o bem estar de seus associados e a determinação de melhorar a renda deles.

Aquele embrião cresceu rapidamente: apenas pouco mais de meio ano depois, a Coojornal estava com quase 200 associados, um capital de 500 mil cruzeiros, editava o Jornal do Inter e outros cinco veículos para terceiros. Deu certo. Graças à capitalização de quotas e à receita obtida com aquelas publicações, os associados decidiram criar um boletim que levasse informações básicas sobre a entidade e o mercado da comunicação.

Foi há exatas duas décadas, em um 15 de novembro de 1975, que começou a circular a publicação que tinha como denominação a própria sigla da cooperativa. Em pouco menos de um ano ganhou credibilidade e alcançou sucesso a ponto de seus editores decidirem levá-lo também para bancas e abrir assinaturas para o público interessado.

Naquela época, plena ditadura, o jornal gaúcho foi considerado um dos cinco principais veículos da imprensa alternativa no Brasil. Editado durante oito anos, tornou-se referência para profissionais e estudantes de Jornalismo e obteve reconhecimento nacional. No livro Jornalistas e Revolucionários, o jornalista e escritor Bernardo Kucinski o destacou como um dos cinco jornais mais importantes da chamada imprensa alternativa brasileira, ao lado dos também mensários Movimento, Opinião e Versus e do semanário O Pasquim.

Quem quiser conhecer ao vivo esta história terá uma bela oportunidade nesta quinta-feira, 13. Um painel a ser realizado no plenarinho da Assembleia Legislativa, com a participação de alguns de seus fundadores e editores, vai rememorar fatos e episódios marcantes. Sinta-se convidado a estar lá, a partir das 18h.