Currículo quase completo, mas falta a posse do COMDIM

Por Márcia Martins

Não sei se os (as) leitores (as) que acompanham os (as) colunistas aqui do portal percebem que no final dos textos consta uma biografia pequena ou não (depende da vontade de cada um expor mais ou menos o currículo). Tenho algumas dúvidas sobre tal leitura - importante para conhecer quem escreve - porque uma vez, ao criticar certa coluna em que eu tecia comentários desabonadores sobre um apresentador da Rede Globo, recebi dos leitores insultos questionando quem eu pensava ser, onde eu havia trabalhado e se eu não estaria destilando inveja. Imaginei que, se eles tivessem lido a biografia, saberiam que tenho alguma trajetória na comunicação social.

 

Há algum tempo, penso em atualizar a minha biografia. Porque, numa representação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS, do qual pertenço à diretoria, fui eleita presidenta da Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA). Mas, embora a eleição tenha ocorrido no final de setembro de 2019, num processo legítimo, de acordo com a Lei de Criação e Regimento do conselho, eu, e demais conselheiras, aguardamos a posse, atrasada em decorrência de trâmites burocráticos da atual administração municipal. Então, na biografia consta o cargo de secretária do COMDIM, função ocupada na gestão anterior.

 

O COMDIM existe desde 1995 com a proposta de ser uma articulação entre sociedade civil e governo para propor, normatizar, fiscalizar e deliberar sobre temas referentes aos direitos das mulheres. E, por isso, tem uma diretoria que necessita da representação das duas instâncias. As da sociedade civil foram eleitas no final de setembro. E as da administração municipal teriam que ser indicadas logo em seguida. Uma vez completa, a nominata é publicada no Diário Oficial de Porto Alegre e a posse pode ocorrer. Mas, infelizmente, desde setembro do ano passado, a Prefeitura de Porto Alegre ainda não teve tempo ou vontade de indicar as suas representantes.

E seguimos, a atual diretoria e a anterior convivendo com harmonia e buscando, com diplomacia e usando os meios legais (ofícios, denúncias do descaso da gestão municipal e pedidos de reuniões não atendidas com secretários) para tentar reverter o entrave e realizar a posse. Não que a demora da Prefeitura me surpreenda. Na gestão anterior do COMDIM, convivemos com a surdez da Administração Municipal, que levou dois anos para publicar o novo Regimento Interno e não se responsabilizou pela posse. Só que um ano após tal eleição, e com os nomes publicados no Diário Oficial, a sociedade civil efetivou a posse.

Relutei em usar este espaço para tratar deste assunto. Mas por considerar que preciso atualizar minha biografia, queira o Prefeito ou não, e por ouvir, mais uma vez, da representante indicada pela Administração Municipal da diretoria anterior do COMDIM que nada faria para acelerar o processo (coisa que ela jamais fez em quatro anos) entendi que precisaria expor aqui - afinal o texto leva minha assinatura e sou responsável pelos meus atos - , o total descaso e desrespeito da Prefeitura com um conselho que se dedica a lutar pelos direitos das mulheres, o que reflete a prioridade que o tema tem para o gestor atual do município.

Assim como outros conselhos municipais, cada um no seu segmento, o COMDIM assiste a uma progressiva retirada dos direitos conquistados pelas mulheres ao longo de uma história nada fácil. O descaso com a posse do COMDIM é o retrato lamentável de um movimento de desmonte dos serviços de apoio às mulheres vítimas de violência na saúde, na educação, na assistência social protagonizada pela Administração Municipal. Mas nós seguimos. Nós persistimos. Nós não cansamos. Nosso nome é luta. E nosso sobrenome é Resistência. Nomenclaturas que não são bem aceitas por todos gestores.

Quem sabe, ainda neste ano, eu consiga atualizar o currículo no final de cada coluna e escreva presidenta eleita e, finalmente empossada, do COMDIM/POA.

 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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