Desafios de uma mulher jornalista

Por Anelise Zanoni

Ano de 2020 e, às vésperas do Dia Internacional da Mulher, ser mulher e jornalista ainda é um desafio.

Claro, temos que concordar que há muito avanço nos últimos tempos, especialmente porque aprendemos a denunciar injustiças e perseguições dos mais variados estilos.

Sou de uma geração de mulheres que trabalhou em redação e sofreu calada com o assédio. Era comum ver profissionais enviando mensagens para expor mulheres ou dividindo piadas (sobre elas) por inúmeros motivos. Sei de casos de um editor que chegou a proibir a ascensão de algumas mulheres por elas não terem cedido aos "encantos" dele. Golpe baixo. Um nojo!

Anos depois, tive um caso de uma chefe (mulher!) questionar minha situação de mãe (claro, ela não tinha filhos e tampouco sensibilidade). "Por que você leva tanto seu filho ao médico, ele tem algum problema por acaso?", ela me perguntou certo dia, irritada com meu atraso. Sim, meu filho havia nascido prematuro e passado por uma cirurgia com 4 dias de vida!, respondi.

Muitas vezes, até mesmo as mulheres que estão no poder são capazes de agir com comportamentos machistas.

No geral, são muitos os casos de menosprezo ao importante papel que temos no cenário da comunicação. Já somos maioria dentro dos cursos de Comunicação e, em muitas cidades, ocupamos mais vagas dentro das redações de veículos de imprensa, mas somos minoria no comando do trabalho. Isso significa que quem manda nas redações são os homens, mas quem pensa e executa o dia a dia, são as mulheres! Os salários mais baixos são nossos também! Sim, somos fortes para aguentar tudo isso!

Para chegar nesse desabafo, lembrei de uma pesquisa feita pela Gênero e Número e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, com o apoio do Google News Lab. A pesquisa "Mulheres no Jornalismo Brasileiro" apresentou desafios para 2018. E eles continuam vivos dois anos depois.

O estudo que aliou métodos quantitativos e qualitativos investigou diversas dimensões das vivências e percepções das mulheres jornalistas que atuam em 271 veículos brasileiros. Na época, 73% das jornalistas afirmaram ter escutado comentários ou piadas de natureza sexual sobre as mulheres em seu ambiente de trabalho e 65,4% alegaram haver mais homens em cargos de poder. Isso trouxe resultados óbvios, porque 86,4% admitiram já ter passado por pelo menos uma situação de discriminação de gênero no trabalho e 83,6% relataram já ter sofrido ao menos uma situação de violência psicológica.

Triste, mas é real.

O que nos resta, então? Ter orgulho do nosso importante papel profissional e ter coragem para se unir e denunciar. Cada dia que colocamos esse tema em pauta, avançamos e fazemos com que esses números mudem mesmo numa época em que até o presidente do país se sente no direito de ofender uma jornalista. 

Por favor, vamos respeitar mais os outros e entender que as mulheres jornalistas podem ser tão boas quanto os homens. Ou bem melhor que eles!

Autor
[email protected] Mestre e doutora em Comunicação Social, a jornalista é CEO da Way Content Agência da Comunicação, especializada em turismo, gastronomia e estilo de vida, e fundadora do projeto Travelterapia, que divulga destinos, experiências e cria projetos de branded content. Em 2019 foi finalista da categoria Imprensa do Prêmio Nacional de Turismo, promovido pelo Ministério do Turismo. Tem experiência como repórter e editora, e é freelancer de publicações como Viagem Estadão e Veja Comer & Beber. Trabalhou 12 anos na redação do jornal Zero Hora e produziu conteúdos para veículos como Sunday Independent, Hola!, Contigo!, Playboy, Veja, Globo.com e Terra. Também atuou por 10 anos como professora de universidades como Unisinos e ESPM, passando pelos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Produção Fonográfica. Atualmente pesquisa o papel da imprensa no desenvolvimento do turismo e já estudou em países como Irlanda, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.

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