Do indizível ao indefinível

Nunca se sabe.Quando os raios ou as ilusơes caem.Como o pó acumula sobre os móveis, se năo se vê o pó chegar.Se é o …



















































Nunca se sabe.
Quando os raios ou as ilus?es caem.
Como o pó acumula sobre os móveis, se n?o se vê o pó chegar.
Se é o nervosismo que revela o pigarro ou se é vice-versa.
Porque, com cep certo ou cep errado, as más notícias sempre batem à nossa porta.
Qual a fonte de água forma a gota dágua que deságua definitivamente uma pessoa.
Porque a grama cortada exala apenas o seu exato cheiro de grama cortada.
Quanto de medo produz um pensamento medroso.
Se o sono é solto por causa da cama vazia ou se a cama parece vazia porque o sono é solto.
Como o céu faz pra repetir o mesmo tom de azul que evoca aquele dia azul que n?o se esquece jamais.
Qual a sensaç?o de ter sensaç?es que n?o s?o as nossas.
Quando um homem e uma mulher v?o se tornar únicos.
Porque uma manta aquece mais que um mantra.
Qual o grau de isolamento suficiente para afastar 6 bilh?es de pessoas de nós mesmos.
Se é café com leite ou leite com café.
Quanto de tempo de alegria ou de sofrimento contém uma ampulheta isenta.
Como um olhar ora intriga ora entrega.
Porque um reencontro, às vezes, vale mais que qualquer encontro.
Nunca se sabe nunca.











Poeminha destrambelhado


Idéias s?o as telhas
da casa sobre os ombros
Ao contrário dos furac?es
ao inverso dos ciclones
e seus ventos de assombro,
essa só se destelha
e mostra seus escombros
quando n?o há faísca
nem centelhas.


CANETA LATEJANTE - O Bier é um grande cartunista gaúcho, o que dá pra conferir trombando com ele ou com qualquer um dos seus cartuns sem modos. E essa é grande arte dele: o Bier produz graça enviando as sutilezas às favas, ou as favas pra cucuia, ou a cucuia pra pqp, ou a pqp pra n?o-sei-onde. Aliás, sei sim: dessa vez mandou tudo isso ali pro bar EntreAto, na República, 163. Lá está a mais recente coletânea do seu típico humor - debochado, virilizado, erotizante, bem traçado, mais grosso que dedo destroncado e mal-engessado. Mas, pra minha alegria e a de seus admiradores, sempre, sempre, sempre muito engraçado. Vá descobrir porque ou por quem lateja a potente caneta do meu amigo Bier. Com surpresa, sua sensibilidade vai até notar algumas recaídas poéticas do autor, embora nem pareçam plural. Como ele mesmo recomenda, n?o leve as crianças. Elas podem querer explicar os cartuns pros pais.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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