Como eu ia definindo antes de vocês começarem a me ler, humor é a capacidade de rir das nossas incapacidades. Nenhum animal tem maior aptidão pro ridículo que nós. Por isso mesmo, não há nada tão risível quanto a dor, o medo e a vergonha - depois que passam. Rir é o genérico mais à mão. Tipo um surfista das palavras, faço do humor a minha praia. Me banho nessa desde que o Guaíba era potável - há exatos 35 danos, 5 reses, 16 pias, 9 foras, 45 minutas e 22 seguros. Se se pode trocadilhar com a própria trajetória, pode-se tudo. Pode-se arrolar o que já se fez, das frases de duplo sentido a textos sem sentido algum, da crônica inacabada mesmo depois de terminada a artigos instantaneamente antigos ao serem escritos, de poeminhas de pé quebrado a haicais claudicantes, da crítica rabugenta a buquês de palavras, de cartuns inspirados a desenhos com desespero, da charge sob censura à ilustração livre e solta. Pode-se ceder à nostalgia profissional: o xerox do primeiro cheque por uma frase, o nascimento de filha e coluna na mesma data, as noites na imprensa dos anos de chumbo (linotipia & ditadura), as contas pagas através do teclado. Pode-se nominar com intimidade a admirável cambada gaúcha da mesma laia: Edgar Vasques, Veríssimo, Batsow, Santiago, Canini, Uberti, Juska, Roberto Silva, Ernani Ssó, Mario César Goulart, João Carlos Pacheco e tantos outros que se insinuam nos meus eletrocardiogramas. Pode-se, aqui e agora, babar diante do prazer de escrever pela primeira vez mais uma vez, deste jornal ainda úmido com essas bobagens semanais, de um público inédito para a minha graça, da nova oportunidade de concorrer com os humoristas de Brasília. E pode-se, enfim, comparar o incomparável. Ao contrário dos ídolos do futebol, que decaem dos maiores clubes para os times da terceira divisão, eu venho da grande imprensa decadente para a ascensão nos briosos jornais do interior. Que mais posso querer? Mais do mesmo: risos e risadas. Clique na imagem para ampliá-la.
(Este acima é a propósito de uma particular comemoração: noutro dia, final de abril, completei bodas de papel - papel jornal, para ser mais exato. Um ano de união com três respeitáveis veículos da Porto Alegrona: Correio de Gravataí, Diário de Cachoeirinha e Diário de Viamão. E o festejo se deve ao fato de hoje haver pouco humor impresso; agora é tudo eletrônico, que também é bão sem ser a mesma coisa: as idéias voam mas as palavras precisam pousar em algum lugar, fazer ninho onde são lidas. No caso, uma página aos sábados. Por isso a reprise da apresentação feita na véspera da lua-de-mel. Que continua.) |