É Preciso Curtir a Estrada

Por Fernando Puhlmann

02/06/2025 14:48
É Preciso Curtir a Estrada

?Hoje me sinto mais forte Mais feliz quem sabe?

Almir Sater

Ontem eu completei cinquenta e dois anos de vida. Quando eu olho para trás, penso que nunca me imaginei com essa idade, isso não é ruim e nem bom, só nunca aconteceu. Já me imaginei com oitenta, tranquilo, metas atingidas, vida vivida e alma leve, mas não fiz planos para os cinquenta e poucos, nem para os sessenta e acredito que nem para os setenta.

Viver para mim até os oitenta, ou mais, sempre me pareceu uma contingência natural da vida, literalmente uma questão de cumprir a vida, compreender a marcha e ir tocando em frente, como disse tão bem o poeta Almir Sater. Acredito que seja o que tenho feito.

Na semana passada, no Instagram ou no TikTok, passei por um corte onde um filósofo falava sobre como as pessoas devem enxergar os seus anos vividos e lá ele comentava que vivemos tempos de ansiedade (nenhuma novidade) e tempos de nostalgia (idem) sem conseguir viver o presente e muito menos sem conseguir nos dar conta de como somos importantes nos tempos atuais. Nossas ações projetam o futuro de muitas pessoas. O que defendemos ou combatemos hoje, pode mudar o destino de gerações de forma real, porém não conseguimos compreender isso na sua plenitude, por que só olhamos para o futuro ou o passado.

Parei para pensar sobre isso, fiz uma pequena vistoria do que vivi até agora e principalmente do que vivo nesse momento. Quais são as minhas causas? Pelo que eu luto diariamente? Qual o impacto real das minhas ações na vida de quem me cerca e de quem nem sabe que eu existo?

Gostei do balanço. Falando assim pode parecer arrogante, eu sei, mas é real. Luto por liberdade, por direitos iguais, pelo fim dos preconceitos, pela causa animal. Podia fazer mais? Podia. Acredito que eu poderia ter sido mais contundente em algum texto, ter me posicionado mais em alguma fala, ter agido de forma mais prática em alguma luta, mas olhando o todo, tenho orgulho dos meus passos até aqui. Saí de cena em momentos corretos, às vezes mais por sorte ou predestinação do que por racionalidade, mergulhei em lutas que deviam ter sido travadas, sofri desgastes pessoais que precisavam ser sofridos e isso me forjou para esse momento.

Me sinto bem. Me sinto pronto para viver os meus 52 anos com a experiência que o tempo trás e a força necessária para continuar impactando a sociedade com atos e palavras.

Não devo deixar herança financeira, não me orgulho nem sinto vergonha disso, até agora não vivi para juntar. Admiro quem consegue viver assim, não critico quem não consegue. Mas quando eu olho para os meus textos, para os meus companheiros de quatro patas, os amigos que a vida me trouxe, eu consigo enxergar um patrimônio gigante. 

Na virada do ano, entre mensagens de ?Bom 2025?, ? Feliz Ano Novo? e coisas que os valha, eu recebi um áudio de um amigo muito querido e que foi uma pessoa FUNDAMENTAL na transformação que a minha vida sofreu em 2024. Na mensagem ele falava: ? Muito obrigado por termos nos conectado tanto esse ano, sua visão sobre as mulheres me fez mudar a minha forma de enxergar algumas situações?. Isso me encantou, eu estava saindo de uma separação, revendo muitas coisas, inclusive a minha forma de enxergar um casamento, cheio de dúvidas, algumas feridas (todo mundo sai machucado de uma separação) e mesmo assim eu consegui fazer um amigo ser mais tolerante e respeitoso com sua companheira? Me senti orgulhoso, um pouco de mim, mas muito mais dele, que mesmo sendo o meu confidente de tantas noites discutindo minha relação que naufragou, conseguiu enxergar coisas positivas ali e resolveu mudar pontos de vista construídos por anos de machismo estrutural. Ninguém muda se não estiver disposto, minhas palavras não surtiriam efeito nenhum em quem não estivesse realmente interessado em mudar, por isso o orgulho dele.

Quando fazia o balanço sobre a minha vida e tentava enxergar a minha posição hoje, lembrei deste fato. Sim. Todos nós impactamos de forma muito real os que nos cercam e outros que nem sabemos.

Depois de meio século, prometo a mim mesmo, olhar mais para o agora, para a próxima palavra escrita, para a próxima frase dita. Os oitenta virão, mas é preciso curtir a estrada.