Eleições, ontem e hoje, parte 2

Por Flávio Dutra

21/10/2024 14:54
Eleições, ontem e hoje, parte 2

Já não se fazem mais campanhas e coberturas eleitorais como antigamente. Sim, sou um saudosista dos dois processos em tempos pretéritos e nem faz tanto tempo assim. Já participei de várias campanhas eleitorais, como profissional ou voluntário, e inúmeras coberturas, especialmente quando atuava em rádio. Neste caso, a primeira foi em 1978, pela Rádio Guaíba, que montou uma grande estrutura e mobilizou uma enorme equipe sob o comando de Antonio Brito, que anos mais tarde se elegeria governador do Estado. A principal disputa foi para o Senado entre Pedro Simon (MDB) x Mário Ramos, Mariano da Rocha e Gay da Fonseca (Arena). Simon superou os três. Ainda vigorava o regime militar, e os governadores eram escolhidos indiretamente.

Foram muitas eleições e coberturas desde então. O pessoal do esporte sempre era chamado a integrar e reforçar a equipe envolvida nas transmissões que varavam os dias e as noites para registrar os votos, urna a urna em todo o Estado. E lá estava eu, lépido e faceiro, normalmente coordenando a cobertura do interior. A movimentação durava de cinco dias até uma semana, à espera de fechar a última urna, pois as emissoras promoviam a contagem paralela dos votos, concorrendo com a Justiça Eleitoral e sempre anunciavam os vencedores com antecedência. E sempre, também, se vangloriavam de que a margem de erro em relação aos números oficiais era ínfima, o que, de alguma forma, era a gratificação pelo investimento na contratação de dezenas de pessoas para receberem as informações - por telefone - das zonas eleitorais. A concorrências entre as emissoras, Gaúcha Guaíba principalmente, era tão ou mais acirrada que os enfrentamentos eleitorais da época.

A disputa pelo anúncio do primeiro voto era feroz e lembro que nas eleições de 1982 o saudoso Edison Moiano, da Guaíba, que acompanhava em Canoas a abertura de uma das primeiras urnas, transmitiu do ginásio onde ocorria a apuração: "Atenção, saiu o primeiro voto no Estado. É para Alceu Collares!" . Foi uma vibração incontida na Central de Eleições da então Caldas Junior e aquela "vitória" diante da concorrência serviu de emulação para toda a cobertura. Indagado mais tarde como conseguira o furo, o esperto Moiano teria confessado que viu de relance o voto que seria de Collares caindo da urna para a contagem e decidiu antecipar o tal primeiro voto. "E, afinal, um voto para Collares teria que ter naquela urna", justificou.

Volto bem mais no tempo para lembrar que minha iniciação política começou muito cedo, lá pelos 10 anos, quando meu pai instalava perto de casa, no bairro Petrópolis, uma banquinha para distribuirmos material de meu tio que disputava uma cadeira na Câmara Federal - foi um dos mais votados e mais tarde elegeu-se senador e depois virou biônico. Éramos muito politizados a escadinha de oito irmãos, tanto assim que na disputa pelo governo do Estado , em 1958, meu irmão Telmo instalou em casa um comitê para o Brizola e minha irmã Silvia um para o Peracchi, com farto material de campanha que buscavam nos comitês de verdade. Os dois não tinham mais de 15 anos!

Consta que, na época, eu teria me atritado e até chegado as vias de fato com um primo querido, que apareceu lá em casa em uma Kombi totalmente adesivada com material de um candidato que não era o de preferência da minha família. Não lembro do episódio e, como sempre fui um devoto juramentado da paz e da harmonia, afirmo que a tal briga não ocorreu.

Fake news a parte, hoje, graças a votação eletrônica, poucas horas após o fechamento das urnas já se sabe o resultado da eleição. As raras emoções das jornadas eleitorais ficam por conta dos casos em que a decisão passa para o segundo turno ou de situações peculiares, como o candidato que venceu por um voto no município de Gentil, a disputa entre dois irmãos em Capão da Canoa ou em que cidade o eleito conquistou o maior índice. Sim, sou um saudosista das campanhas e coberturas eleitorais de antigamente.