Estes dias

Por Vieira da Cunha

22/09/2025 15:06
Estes dias

Não nos enganemos: o nome certo para o recente movimento espúrio da Câmara dos Deputados é PEC da Bandidagem. Sim, a proposta não é honesta, não é legítima, não é correta. Foi lindo ver as ruas das capitais brasileiras movimentadas em protestos às manobras dos parlamentares que tentam se livrar de crimes que cometeram, cometem ou irão cometer. O texto é bem claro: parlamentar acusado de crimes como desvio de dinheiro, estupro e mesmo, acredite, assassinato, só poderá ser julgado se o Congresso assim decidir, em votação secreta. Parece engraçadinha, mas é perfeita a imagem levantada por alguém: imagina se um juiz de futebol só pudesse expulsar um jogador se os companheiros de seu time autorizassem o cartão vermelho. 

Então: não pode haver tolerância para com a bandidagem. Pode soar ingênuo, mas vale a reflexão: o crime organizado poderia muito bem se valer desta prerrogativa para deitar e rolar. Aliás, também não nos enganemos aqui: ou o Brasil acaba com organizações como o PCC ou o crime organizado acaba com o Brasil. O assassinato à luz do dia do ex-delegado-geral de São Paulo é o mais recente indicativo do que são capazes estes criminosos.

Democracia é cláusula pétrea e deve ser defendida sem hesitações. Afinal, nos últimos dois séculos, quantas atrocidades, quantas safadezas, quantas transgressões, quantas ofensas foram cometidas em seu nome! Pois a PEC da Anistia, cujo nome deveria ser PEC da Impunidade, ameaça enfraquecer novamente nossa democracia, como aconteceu em outros levantes, dos quais o mais recente foi o golpe de 64. Desta vez, estes que tentaram se manter no poder, planejaram assassinar adversários políticos e estimularam a plebe a sair depredando símbolos da nação querem seguir em frente como se nada tivesse acontecido? Não, não dá.

Tem várias definições para a direita na política, e outro dia, ao ver tardiamente (é do início do século) o seriado Newsroom, não tive como não registrar este desabafo do personagem ao analisar a direita norte-americana e seus princípios: 

- Pureza ideológica, compromisso como fraqueza, uma crença bíblica fundamentalista, negação da ciência, indiferença aos fatos, um medo hostil de progredir, demonização da educação, desejo de controlar o corpo das mulheres, xenofobia grave, mentalidade tribal, intolerância com a discordância e um ódio patológico do governo. Eles podem se chamar de Tea Party, se chamar de conservadores, e até mesmo republicanos? embora não devessem. Mas devemos chamá-los do que eles são? o Talibã Americano.

Hoje Donald Trump se cacifa diariamente como líder deste talibã. Ele, que se elegeu prometendo acabar em dias com a guerra na Ucrânia e o conflito em Gaza, está conseguindo é minar direitos de cidadania e perseguir adversários feito fundamentalista. Trabalha diariamente para fragilizar a liberdade de expressão. Agora mesmo, foi por pressão de seu governo que foi cancelado o programa de Jimmy Kimmel, um dos talk shows com maior audiência e história dos Estados Unidos.

Por que a pressão? Porque o apresentador fez declarações críticas ao ativista de direita Charlie Kirk. E quem era Charlie Kirk? Um extremista racista, a ponto de afirmar que Martin Luther King foi "horrível" e "não era uma boa pessoa". E que George Floyd, o preto assassinado pela polícia, era um canalha. Defendia o uso de armas, a ponto de sustentar que "vale a pena arcar com o custo de algumas mortes por armas de fogo todos os anos para que possamos ter a Segunda Emenda", a que trata do porte de armas. Ele era isso, um propagador de ideias nazistas, racistas e de violência extrema, e defensor do televisionamento de execuções sumárias para "fins educativos". Foi sem deixar saudades.

E poucos dias depois morreu Robert Redford, um exemplo de influenciador com posições políticas equilibradas, um raro caso de figura pública respeitada por seu ativismo dedicado à tarte e ao meio ambiente. O cineasta Walter Sales recordou a importância dele como criador do Instituto Sundance, grande sustentador do cinema independente. Foi graças a ele, atestou Sales,que se viabilizou a obra  Central do Brasil. A carreira, como ator, diretor ou produtor, foi inspiradora e exemplar. Foi deixando muitas saudades.