Ezra

Por José Antônio Moraes de Oliveira

Em 1933, ele se encontra com Benito Mussolini. Não passou de uma breve conversa, mas o resultado foi fatídico para a carreira de Ezra Pound e o conduziria a um desastre pessoal. Para piorar, ao sair da audiência, o poeta declara que conhecera um novo Thomas Jefferson. Escritores e poetas, seus colegas nos Anos Dourados em Paris ficaram chocados. John dos Passos disse que Pound, como Dante, fizera uma viagem ao Inferno:

"Não se deve discutir com o demônio,

ele é bem mais esperto do que nós".

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Ezra Pound viveu como um expatriado na Itália nos anos 20 e como tantos outros intelectuais engajados da época, nutria uma admiração por Benito Mussolini, acreditando que o fascismo era o futuro da Itália. A situação se agravou quando, em uma série de programas em uma rádio de Roma, o poeta denuncia que o presidente Franklin Delano Roosevelt conspira com os banqueiros de Wall Street, para provocar a guerra na Europa.

Ao final da guerra e já com 60 anos, é preso em uma gaiola de arame em um centro de detenção de Pisa e mais tarde, confinado em um asilo psiquiátrico nos Estados Unidos. Diagnosticado como insano e paranoico, mas é justamente neste período que produz algumas de suas melhores poesias. Em 1948, é publicada a série de poemas The Pisan Cantos, que o The New York Times afirma ser "uma das obras-primas da poesia do século XX". A coletânea ganha o Prêmio Bollingen da Biblioteca do Congresso, com escritores e acadêmicos de prestígio como jurados. A comunidade literária protesta, mas nomes do calibre de E. E. Cummings, Marianne Moore e Robert Lowell apoiam Pound, fazendo frequentes visitas ao asilo de Saint Elizabeth. Como medo da patrulha ideológica, seu amigo Ernest Hemingway nunca o visitou, mas publica uma carta aberta nos jornais, coassinada por Robert Frost e T. S. Eliot, pedindo a libertação do poeta. Na carta, Hemingway escreve que, mesmo tendo descido ao Inferno e se aliado ao demônio, Erza Pound era um dos grandes da poesia e merecia ser perdoado.

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Em 1958, ele é finalmente libertado de Saint Elizabeth e retorna à sua querida Itália. Se estabelece em Veneza onde retoma o trabalho em seus Cantos inacabados. Morre em 1972 e é enterrado na ilha de San Michele, que ele admirava da janela de sua casa em Veneza. Apesar do peso das controvérsias e divergências causadas por suas posições radicais, Ezra Pound permaneceu como um dos mais influentes poetas do século. Tanto que, quatro décadas depois, o inglês Donald Hall, que pesquisou sua vida e obra, reafirmaria:

"Mil vezes mais do que qualquer outro, ele

tornou possível a poesia moderna na língua inglesa."

Mesmo convivendo com inimizades e antagonismos por seu apoio ao fascismo, durante a maior parte de sua vida, Ezra Pound dedicou sua energia a estimular novas direções criativas na posia. Prestou apoio e promoveu figuras como James Joyce, T.S. Eliot e Robert Frost. Em A History of Modern Poetry, o crítico David Perkins, resumiu sua influência:

"O mínimo que pode ser reivindicado de sua poesia é que durante 50 anos.

 Pound foi um dos três ou quatro

poetas que melhor escreveram em inglês."

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 Quando Ezra Pound regressa à Itália em 1958, Ernest Hemingway lhe escreve esta pequena ode à missão do escritor:

"Escrever significa viver em solidão.

Quando o escritor cresce em estatura pública, ele perde sua

solidão e a obra se deteriora.

Mas se ele faz seu trabalho sozinho e é um escritor de verdade,

deve enfrentar a eternidade, ou a falta dela, todos os dias.

Para um verdadeiro escritor, cada livro é um novo começo,

onde ele tenta alcançar algo que está além do alcance. 

 Mas deve continuar tentando algo que nunca foi feito ou que outros tentaram e falharam.

Então, às vezes, com muita sorte, ele terá sucesso."

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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